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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/

A inflação em fevereiro, de 0,33%, surpreendeu de novo para o lado positivo. O mercado esperava algo mais próximo de 0,5% por causa dos reajustes no transporte em várias cidades. É o quinto mês seguido em que o índice vem em um nível historicamente baixo.

Continuando esse movimento em março, a inflação estará já na meta e o Banco Central vai acelerar o corte dos juros em abril. Há quem aposte em corte de um ponto percentual agora e uma taxa de 9% ao ano em dezembro. O tamanho do corte vai depender do que o BC entender como a nova taxa de juros de equilíbrio, aquela que não permite a alta da inflação e também não desacelera a atividade.

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Esse movimento tão consistente de convergência da inflação para a meta não se via em quase uma década no Brasil. É uma chance e tanto para o Conselho Monetário Nacional reduzir gradualmente a meta.

Se um índice de inflação de 4,5% ao ano não é dos mais incômodos – podemos conviver com ele sem que a economia fique desarrumada – ele permite uma margem de manobra que chega a 6% para absorver choques inflacionários. Como vimos no passado, governos são capazes de fabricar choques para justificar uma inflação um pouco mais alta, no teto da meta ou um tantinho a mais.

Uma meta menor não resolve a má gestão, mas traz dois recados implícitos: compromisso com uma inflação sob controle no longo prazo e a chance maior de o Banco Central de trabalhar com taxas de juros mais baixas. Se bem comunicada e cumprida, uma meta mais baixa faria muito bem para a economia. Teríamos uma taxa de juros real (a nominal menos a inflação) provavelmente mais baixa.

O debate sobre até onde pode ir o corte na meta está aberto. Há quem enxergue espaço para uma meta de 4% nos próximos dois ou três anos. Em cinco a sete anos, poderia cair para até 3% ao ano. É onde está o México, para citar uma economia similar à brasileira.

Para funcionar, esse movimento teria de ser acompanhado pela melhora nas contas públicas. Conforme o Brasil alcance superávits primários e encontre o caminho para parar o crescimento da dívida, teria a combinação necessária de maior confiança e menor pressão dos gastos públicos para fazer o ajuste na meta.

A consequência mais interessante é que provavelmente teríamos no fim uma taxa de câmbio mais estável, menos sujeita às grandes oscilações provocadas pela passagem do capital volátil. Afinal, taxas de juros mais baixas e maior confiança na gestão das contas públicas reduzem os prêmios de risco para esse tipo de investimento.

No fim do ciclo, esse câmbio mais estável serviria para reforçar a capacidade do país em cumprir sua meta de inflação, já que a economia estaria menos sujeita a choques provocados pela desvalorização súbita do real.

Olhando assim, parece que essa oportunidade tem grandes chances de ser aproveitada pelo Brasil. Teria, não fosse a falta de compromisso de parte do mundo político com a estabilidade econômica. A pressão pelo gasto público maior, como se sabe, é constante. A melhora na arrecadação poderá levar a uma revisão do teto de gastos, por exemplo. Ou o governo pode perder a oportunidade de acelerar a obtenção de um superávit em troca de alguns bilhões a mais no gasto.

A crise política alimentada pela corrupção está longe do fim e nos garantirá meses de tensão na tramitação das reformas no Congresso. Sem elas, a janela de oportunidade de sermos um país com inflação e juros normais se fechará rapidamente.

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