Na última semana, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tirou alguns minutos para pressionar montadoras que produzem no México. Falou mal da General Motors e da Ford e criou um embaraço com o governo japonês por causa da Toyota. Foi um aperitivo do que significa um presidente americano pronto para fechar suas fronteiras pelo Twitter.
Essa postura isolacionista ignora o quanto os consumidores americanos se beneficiaram com a compra de produtos feitos a custos mais baixos no México. O discurso da manutenção de empregos, que pelo visto vai mover a política externa dos Estados Unidos nos próximos anos, tem o potencial de danificar de vez o processo de abertura comercial global.
Olhando para a história, a última vez em que isso aconteceu foi antes da Primeira Guerra Mundial. A onda de industrialização nacionalista foi a mesma que levantou o conflito na Europa. Sem uma liderança que capitaneasse a ordem global na sequência, conflito voltou ao continente europeu duas décadas depois.
Isso não significa que estamos à beira de uma nova guerra, mas é um argumento para mostrar que esse tipo de discurso pode custar muito caro.
O efeito imediato da vitória de Trump foi sentido de maneira mais forte no México. O peso mexicano está derretendo e o país pode perder, além de investimentos, parte do mercado consumidor americano. Hoje, o fluxo de comércio entre os dois países é de US$ 600 bilhões.
O otimismo que tomou conta dos mercados dos EUA depois da vitória de Trump parece não estar levando muito a sério os riscos do fechamento da maior economia do mundo. E também não está no cálculo o preço da personificação da política econômica.
Sabemos bem, no Brasil, que a personificação da política econômica leva ao favorecimento de intervenções que distorcem mercados e criam benefícios indevidos. Foi assim que Lula encarou a descoberta do pré-sal, uma espécie de dádiva que caiu em seu colo e precisava ser aproveitada em nome de uma visão de mundo. O preço foi o maior escândalo de corrupção da história brasileira.
Não há razões para acreditar que o mesmo ocorreria nos EUA, onde as instituições são mais fortes do que no Brasil. O argumento aqui é o de que o envolvimento pessoal de políticos em projetos privados, como investimentos da Toyota e da Ford no México, distorce a economia e provoca dúvidas sobre como a iniciativa privada deve se relacionar com o governo. Quando as regras não são claras ou são alteradas conforme a vontade de uma única pessoa, aumentam os riscos para as empresas.
O aprofundamento de uma política personalista e isolacionista nos EUA levaria muitas nações a procurar alternativas no balanço de forças da economia global. China e Rússia não oferecem modelos melhores do que a democracia liberal americana, mas quando o jogo é nivelado por baixo, todos se parecem iguais. Corremos o risco de o mundo se tornar multipolar, fechado e mais pobre.
Em alta
A Petrobras está mostrando que sua nova política de preços é para valer. O diesel foi reajustado de novo na última semana. Com o petróleo em alta, os ajustes não devem parar por aí.
Em baixa
Apesar de todos os avisos de que o sistema penitenciário brasileiro era uma bomba-relógio, pouco foi feito para evitar os dois massacres ocorridos em presídios do Norte na última semana.
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