Não é rara a existência de temas que unem os extremos do espectro ideológico político. O movimento anti-globalização é um deles e vem ganhando terreno onde menos se espera. Na Europa, a saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit) e a recente onda de alemães contra um acordo comercial com os Estados Unidos são exemplos desse movimento no coração do mundo desenvolvido. Do outro lado do Atlântico, a chance real de vitória de Donald Trump – que ameaçou acabar com acordos comerciais – nos Estados Unidos é também um sintoma da força desse movimento.
A esquerda vem há décadas defendendo a tese de que a globalização é um projeto das elites que só beneficia grandes corporações. Essa visão ignora qualquer outro benefício que a combinação de abertura comercial, fluxo de pessoas e troca de informações possa trazer. Na outra ponta do espectro ideológico, essa ojeriza às elites econômicas é complementada pela xenofobia e a ideia de que os empregos estão sendo roubados por estrangeiros.
Esses são discursos fortes para eleições, mas falsos em suas premissas. Nunca fomos tão ricos e não há dúvidas de que a abertura econômica e o fluxo de pessoas estão ligados à prosperidade. Países que se inserem em cadeias globais de valor geram mais riqueza. Empresas exportadoras são mais produtivas. Imigrantes levam ideias e seu espírito empreendedor para onde encontram oportunidades. Mesmo o fluxo de capital, tão odiado pela esquerda, financia projetos onde eles são mais rentáveis – e, por causa da função do retorno sobre os investimentos em capital, o lucro é mais alto em países em desenvolvimento do que nos países ricos.
Juntos, os tantos movimentos anti-globalização estão aumentando os riscos econômicos. Na última semana, por exemplo, a sinalização da primeira-ministra britânica, Theresa May, de que o Brexit seria mais brusco e amplo do que o antecipado lançou a libra para seu valor mais baixo em mais de três décadas. Os britânicos podem em dois anos ficar sem seu maior mercado de exportações, sem mão de obra e sem milhares de estudantes e cientistas que entram no país a cada ano.
Para o Brasil, esse movimento ocorre bem quando o país começa a rever sua visão a respeito da globalização. Ainda na semana passada, o presidente Michel Temer foi à Argentina para reativar as relações entre os dois parceiros comerciais. O Mercosul é um instrumento que foi relegado ao plano ideológico do protecionismo e precisa ser retomado para realmente levar a uma união comercial. Seus membros precisam se abrir para o mundo juntos, e não se fecharem atrás das barreiras do mercado comum.
Também temos a oportunidade de aproveitar a onda recente de imigração do Haiti e da Síria para legitimar uma maior abertura para a entrada de pessoas. A coragem de quem se arrisca a deixar seu país para empreender no Brasil não pode ser desperdiçada e tratada como um incômodo.
Mesmo em um momento em que a globalização está sob fogo cruzado, o país tem muito a ganhar se escolher a defesa da abertura econômica.