O Brasil deixou o fundo do poço na passagem do segundo para o terceiro trimestre. Tanto que ninguém achou ruim o número do PIB do segundo trimestre divulgado na última semana – queda de 0,6% na comparação com os primeiros três meses do ano. A melhora de junho para cá foi suficiente para ser quase unanimidade no mercado que o país vai virar o ano já em crescimento.
A recuperação após longas recessões normalmente é rápida no Brasil e outros países da América Latina. Se olhássemos apenas para o passado, poderíamos esperar uma taxa de 4% ou mais no ano que vem. Sem nenhum outro fator externo, o país voltaria rapidamente a criar empregos e recompor a renda.
Desta vez, deve ser diferente. Há sinais de que, mesmo com uma melhora no clima econômico, não haverá uma locomotiva para puxar o país nos próximos dois anos. A dificuldade é simples de explicar. A economia global perdeu fôlego e mesmo com um câmbio melhor está difícil para as empresas exportarem mais. Sem um choque de demanda externa, não há muito o que esperar internamente.
O desemprego deve demorar um tanto ainda até parar de crescer e a renda continuará em queda por mais alguns meses. Isso limita o potencial de crescimento da demanda do consumo.
Os governos estão em dificuldades e o melhor que têm a fazer é segurar seus gastos. Um ajuste fiscal é mais necessário do que algum plano mirabolante para elevar a demanda. O fracasso recente do governo Dilma Rousseff prova que não adianta ao governo tentar inflar artificialmente a economia.
A boa notícia da última semana é que o investimento voltou a subir. Pouco, é verdade, e depois de uma série de quedas inédita. É este o fator que poderá contribuir mais para a retomada a partir do fim deste ano. Mas que ninguém espere um milagre: o retorno do investimento será a passo de tartaruga.
O novo governo terá de ser persistente no ajuste fiscal e consistente na adoção de medidas que melhorem o clima econômico. Governos sempre são tentados a fazer coisas para acelerar o crescimento. Agora, não vai adiantar.