O governo de Michel Temer começa a contar com uma vitória importante no front econômico. A economia parece estar saindo do buraco, com a possibilidade de ter um desempenho até um pouco melhor do que o esperado. Em entrevista ao Valor na última semana, Temer demonstrou seu contentamento com o “tempo recorde” com que a economia se recuperou.
Para um presidente que enfrenta um processo no TSE que pode levar à cassação de sua chapa, ter a economia rodando de novo é uma tentação. Fora do estado depressivo, a economia estabiliza as receitas e pode jogar para a frente algumas reformas.
O primeiro sinal de que essa é uma possibilidade real foi a liberação das contas inativas do FGTS. Foi um ato que tinha um objetivo concreto de estimular o consumo, mas também passava uma mensagem positiva que não faz mal algum para a imagem do governo.
Em seguida, começaram a vazar na imprensa notícias sobre a pressão do núcleo político por mais medidas de estímulo. Até se cogitou uma mudança na tabela do Imposto de Renda que isentaria salários até R$ 8 mil – ideia descrita como puro desconhecimento por membros da equipe econômica que comentaram o assunto.
Conforme a investigação do TSE avança e a popularidade do governo não reage, cresce o risco de esse tipo de pressão se tornar incontornável, como ocorreu no governo Dilma Rousseff. Isso porque, por mais que o clima esteja melhorando, a economia vai reagir de maneira lenta o bastante para irritar qualquer presidente que vai mal nas pesquisas de popularidade.
Um movimento sutil do efeito da melhora da economia já deve se dar no contingenciamento que o governo vai anunciar nas próximas semanas. Com a perspectiva de um crescimento um pouco melhor do que o esperado, a equipe econômica deve segurar R$ 30 bilhões do orçamento, abaixo da estimativa inicial de R$ 50 bilhões.
Uma melhora mais aguda levaria a uma revisão maior do orçamento e tiraria o estímulo que o Congresso tem neste momento para aprovar as reformas enviadas pelo governo.
O risco é um pequeno alívio fiscal se transformar em grandes concessões na reforma da Previdência, por exemplo, que não tem o objetivo de resolver as contas públicas no presente, mas evitar uma catástrofe maior no futuro.
Cálculos do próprio governo mostram que a participação da Previdência nos gastos públicos vai continuar subindo nos próximos anos, mesmo se a reforma passar da maneira que o governo enviou. Isso em um cenário de teto de gastos valendo e sem aumento da carga tributária.
Levada ao extremo, a tentação populista abandonaria a ideia do teto de gastos assim que a arrecadação reagir. Não parece ser a opção atual de Temer, mas é o tipo de ideia que o núcleo político costuma trazer quando fica encurralado. E hoje ele está, em duas frentes, a Lava Jato e a ação no TSE.