As relações trabalhistas, no Brasil, estão ainda muito distantes do ideal. A crença de que patrões e empregados estão em lados opostos representa um retrocesso para o crescimento da economia. E, embora essas relações sejam discutidas exaustivamente, as soluções parecem estar distantes das empresas, ocasionando morosidade nos resultados e pouca lucratividade para o país.
Otávio possui uma pequena fábrica de biquínis no litoral do estado. Montou a estrutura com poucos recursos e construiu parte da empresa, literalmente, com as próprias mãos. Sua esposa deixou o cargo de secretária que ocupava em um escritório de advocacia para auxiliá-lo no sonho de um negócio familiar.
Ambos dedicam-se inteiramente ao trabalho, deixando, muitas vezes, sua vida social em segundo plano.
Otávio é o primeiro a chegar na fábrica e sempre o último a sair. Sua jornada começa às 5h e termina às 23h. Ele supervisiona toda a produção e, freqüentemente, precisa sentar-se à máquina de costura para auxiliar os colaboradores, sobretudo quando os prazos impostos pelos clientes são bastante reduzidos.
Ele, ou sua mulher, jamais reclamam do volume de trabalho e das dificuldades, pois acreditam que o retorno deve vir em breve. Por isso, nem as contas atrasadas, nem os juros abusivos dos bancos, tiram deles a esperança de conseguir vencer e prosperar.
O que os aborrece, no entanto, é a falta de parceria por parte dos empregados. Eles possuem 30 postos de trabalho e, embora leiam nos jornais que a oferta de emprego é menor do que a procura, não conseguem manter colaboradores por muito tempo.
Sempre, por volta do mês de novembro, 15% de sua equipe pede para sair. A justificativa é a oportunidade de trabalhar em regime temporário para as imobiliárias locais que, no verão, oferecem inúmeras vagas. Então, sem mais nem menos, os empregados abandonam a fábrica e migram para o outro setor, que exige menos horas de trabalho.
Assim, todos os anos, Otávio e sua esposa sofrem com o mesmo problema, que não se resume somente à perda dos colaboradores antigos. A conquista de novos profissionais é ainda mais difícil, pois os candidatos preocupam-se, exclusivamente, com seus ganhos e benefícios. Antes mesmo de serem contratados, os interessados fazem dezenas de exigências, sobretudo em relação ao volume de funções e às condições de trabalho. E, após conquistarem a oportunidade, eles não comparecem assiduamente ao emprego, apresentam desculpas para o não cumprimento das metas de produção, reclamam da quantidade de serviço, etc.
Mas o pior, para o casal de empresários, é a falta de comprometimento apresentada por sua equipe. Quando os colaboradores são comunicados da falta de investimentos no setor têxtil, da perda de um cliente ou da estagnação do crescimento da empresa, a maioria começa a procurar novos postos de trabalho no mercado, pois prefere abandonar o barco antes mesmo de saber se está furado.
E, mesmo quando solicitado que todos se esforcem ao máximo para conquistar mais mercado e, conseqüentemente, mais lucratividade para todos, os colaboradores se eximem de toda e qualquer responsabilidade e participação. Dizem, nos bastidores, que a culpa pela empresa não crescer é do patrão e, se caso perderem o emprego por falta de crescimento da fábrica, entrarão na Justiça para conseguir seus direitos. O discurso, entre eles, é sempre o mesmo: o patrão de um lado assumindo todas as responsabilidades, custos, acertos ou erros e do outro o empregado, executando, sem questionar, todas as funções que lhe forem determinadas.
E, embora Otávio e sua esposa tenham, diversas vezes, tentado reverter essa separação de interesses, de valores e de objetivos, eles não conseguem fazer com que seus empregados passem para o mesmo time.
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Como é possível um técnico de futebol ganhar um jogo sozinho, sem o empenho e dedicação de todos os seus jogadores? Sem o esforço concentrado de todos é impossível jogar uma bela partida e ganhar de goleada. Em uma empresa acontece o mesmo. Sem o esforço coletivo de todas as pessoas, departamentos e áreas distintas, não se pode vislumbrar um crescimento duradouro e sólido.
Mas, infelizmente, patrões e empregados ainda não conseguiram descobrir a fórmula para caminhar, verdadeiramente, em uma mesma direção. Ambos falam idiomas distintos quando deveriam falar a mesma língua. Por isso, essa crença, de lados opostos, é o entrave para o crescimento de toda uma nação, que só conhecerá a prosperidade com a mudança desses conceitos retrógrados.
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Arte e criação
Ensinar jovens de comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro a usarem a arte e a criatividade na produção de filmes: esse é o objetivo do projeto "Viajando na Telinha", desenvolvido pela ONG Pró Apoio Comunitário em parceria com a Petrobrás. Atendendo 300 jovens entre 16 e 24 anos, que vivem na Baixada Fluminense, o projeto visa formar cidadãos e capacitá-los na área audiovisual, além de formar público para o cinema nacional. As atividades duram seis meses e são divididas em duas etapas, uma teórico-prática (na qual são repassadas as técnicas de produção) e outra de pré-produção, produção e pós-produção. No próximo dia 3 de abril, começa uma capacitação avançada para os 57 jovens que participaram da primeira turma, há dois anos. A intenção é produzir filmes para virar película e concorrer a prêmios dentro e fora do Brasil. A maioria dos jovens que participou do projeto já está empregada. Os resultados esperados para este ano são a produção de novos filmes com diferentes pontos de vista e apropriação da linguagem visual para que mais jovens possam se tornar profissionais.
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Esta coluna é publicada todos os domingos. O espaço é destinado a empresas que queiram divulgar suas ações na gestão de pessoas e projetos na área social, bem como àquelas que queiram dividir suas experiências profissionais. A publicação é gratuita. As histórias publicadas são baseadas em fatos reais. O autor, no entanto, reserva-se o direito de acrescentar a elas elementos ficcionais com o intuito de enriquecê-las. Contato: coluna@circulodoemprego.com.br, ou (41) 3352-0110. Currículos: cv@debernt.com.br