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Capital Humano

Qualificação e preconceito

Dino era motorista de ônibus havia cerca de oito anos e sempre gostou muito de sua profissão. Conhecia pessoas diferentes todos os dias, via a cidade despertar e adormecer no decorrer do seu percurso e encerrava o expediente trocando experiências com seus colegas de trabalho. Não se queixava da rotina, pois acreditava que estava em posição privilegiada. Afinal, tinha emprego fixo, considerava as condições de trabalho adequadas e divertia-se com os acontecimentos diferentes que sempre presenciava.

Mesmo assim, ele nunca deixou de estudar. Dino completou o ensino médio com muita dificuldade, dividindo seu tempo entre o trabalho e a escola. Então, após receber o diploma com notas bastante elevadas, decidiu que iria tentar o vestibular. Ninguém em sua família havia cursado uma faculdade e para ele o desafio parecia sobre-humano. Porém, com muita força de vontade e dedicação, Dino foi aprovado no primeiro vestibular que tentou, para Jornalismo.

Ele sempre sonhou em transmitir notícias, pois a experiência como motorista de ônibus lhe ensinou que a informação é o bem mais importante que um cidadão pode querer. Pensava que assim poderia questionar a sociedade e, conseqüentemente, ajudar a melhorá-la. A conquista de Dino foi festejada por seus familiares, colegas de trabalho e até por seus superiores, que o incentivaram fornecendo-lhe o material escolar. Disseram até que Dino seria âncora de um telejornal e que iria se lembrar dos tempos de motorista com saudades.

Ele, então, continuou a dividir-se entre o trabalho e a faculdade, conseguindo desempenho excelente em ambos. Seu plano era o de continuar com sua profissão de motorista até o momento de estrear na nova carreira. No entanto, uma reestruturação na empresa tirou dele a vaga. Como precisavam cortar custos, optaram por desligar aqueles que tinham potencial de encontrar outra colocação no mercado. Dino foi apontado imediatamente, pois era sabido que não seria motorista por muito mais tempo.

Conformado com a decisão da companhia, Dino foi em busca de uma vaga em outras organizações do mesmo ramo. Acreditou que o caminho mais natural seria continuar na profissão, pois possuía experiência e conhecimento na área. Além do mais, como ainda estava no início da faculdade, era cedo para atuar como jornalista. Porém, ao enviar seu currículo para diversas empresas de transporte urbano, Dino obteve respostas negativas de todas. Procurou saber a razão e soube que, embora ele fosse extremamente adequado para as vagas de motorista, seu currículo mostrava que era qualificado demais para a função.

O fato de estar cursando uma faculdade o eliminou da concorrência logo de cara. As empresas temiam que, por ser um jovem promissor e ambicioso em relação a sua carreira, ele iria exigir salário mais alto e até mesmo causar confusões entre a administração e o operacional. Agora, ele subtraiu de seu currículo a informação sobre a faculdade e já tem uma entrevista agendada em duas companhias de ônibus.

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Infelizmente, a história de Dino é muito comum, não só nos níveis operacionais, mas no executivo também. As empresas ainda temem profissionais muito qualificados, pois acreditam que isso aumentaria muito o seu salário, além de pensar que eles nunca estão satisfeitos com a sua função. Temem que esses profissionais sejam nocivos para o ambiente de trabalho, pois tendem a ser questionadores e a influenciar o clima organizacional. E isso acontece de fato, mas de uma forma positiva. Profissionais mais bem qualificados são também muito competentes e inovadores e nem sempre exigem remuneração extraordinária. Muitos deles querem apenas uma oportunidade para se sentirem úteis, realizados. Por isso, as empresas não precisam ter medo da qualificação dos candidatos, pois – geralmente – um profissional mais preparado está disposto a negociar e a dialogar.

Saiba mais

Panificadora solidária

Com a missão de gerar renda e estimular a atuação cooperativa na Vila Joana d’Arc, na periferia de Porto Alegre, a PUCRS – com o patrocínio da Petrobrás – criou o Projeto Joana d’Arc em Luta pela Dignidade. Iniciado em 2006, o projeto envolveu inicialmente 36 mulheres daquela região, que estavam fora do mercado de trabalho. De outubro a dezembro do ano passado, elas participaram de cursos gratuitos de panificação e confeitaria. Mais do que a profissionalização nessas áreas, o projeto tem oferecido a essas mulheres a capacitação para que elas sejam capazes de gerir, sozinhas, uma panificadora montada no salão paroquial da capela da comunidade. Para que possam se dedicar a essa missão, foi estruturado também um espaço de convivência extra-escolar para os filhos delas com idade entre 3 e 12 anos. Semanalmente, o projeto ainda doa às participantes produtos alimentícios que somam aproximadamente R$ 20, além de lanche diário para as crianças.

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Esta coluna é publicada todos os domingos. O espaço é destinado a empresas que queiram divulgar suas ações na gestão de pessoas e projetos na área social, bem como àquelas que queiram dividir suas experiências profissionais. A publicação é gratuita. As histórias publicadas são baseadas em fatos reais. O autor, no entanto, reserva-se o direito de acrescentar a elas elementos ficcionais com o intuito de enriquecê-las. Contato: coluna@circulodoemprego.com.br, ou (41) 3352-0110. Currículos: cv@debernt.com.br.

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