A curiosidade faz parte da alma do repórter e a vida interior faz parte da alma do escritor. Dizia meu amigo, o brilhante mineiro Otto Lara Rezende, o maior editorialista que o Brasil já teve: "É preciso uma grande vida interior para ficar sem fazer nada, então eu tenho, completava, pois ficaria meses lendo e pensando, sem trabalhar". Alvaro Dias e eu fomos conversar com Leonel Brizola, em seu apartamento de Copacabana. Estávamos sem partido, e a alternativa melhor era o PDT do líder gaúcho. Um partido trabalhista de centro-esquerda, que fazia parte da internacional socialista européia. Brizola nos recebeu na sala, com cafezinho, biscoitos e uma fantástica vista para o mar. Começou dizendo que era homem do campo, mas agora se apaixonara pelo mar, pelo azul que se misturava com a praia. E pela manhã lia os jornais e tomava café vendo o Atlântico em baixo de suas grandes janelas. Também adorava o pôr-do-sol que a luz refletia na água até desaparecer. Um homem sensível, um ser humano diferenciado. Um nacionalista com amor por sua terra. Falamos de política, dos militares e do seu exílio. Contou das dificuldades em viver fora do país com a família. Lembrei que estivemos juntos em Nova Iorque com o Paulo Francis, que nos apresentou junto com o Rafael de Almeida Magalhães, no famoso restaurante Sparks, onde comemos carne grelhada por duas vezes. É a melhor adega da cidade, e os filés de carne são fantásticos pelo sabor e maciez. Foi lá que mataram o cappo Carlo Gambino, numa disputa de máfia.
À certa altura, perguntei ao dr. Brizola o que achava da reforma agrária, sendo ele um homem ligado ao campo e gaúcho. Com aquele sotaque inconfundível, Brizola contou que lá atrás falou com Getúlio Vargas sobre reforma agrária e ouviu a resposta: "Leonel,vaca não vota, vamos cuidar dos operários e acertar a vida nas grandes cidades, assim o Brasil melhora". Getúlio não era um assistencialista à la Hugo Chávez e Lula da Silva, era um estadista, um político com noção histórica e visão do Brasil. Não distribuía bolsas de alimentos, pensava nos direitos dos trabalhadores, na organização da classe operária e no desenvolvimento do país em plena guerra mundial. Como exemplo a Petrobrás, que foi uma luta importantíssima vencida pelos nacionalistas que tinham visão do futuro; basta ver hoje os preços e a importância do petróleo no cenário global. Getúlio foi o condutor que anteviu o significado de um Estado forte para manter unido e independente um país de dimensões continentais como o Brasil.
Peço aos petistas e, principalmente, ao presidente Lula que não queiram rever a História do Brasil e nem mudar o nome dos grandes brasileiros que já estão nos livros que lemos e nas escolas que as crianças freqüentam. Tenho saudades de homens como Leonel Brizola, Carlos Lacerda, Juscelino e Getúlio. Pessoas preparadas para governar e que tinham como princípio cuidar de suas biografias, se colocando com a dignidade que os verdadeiros homens públicos devem ter.
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