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Carlos Nasser

Prêmio Pulitzer

"Uma foto vale mil palavras". Frase que roda o mundo e desconheço o autor. O mestre Millôr Fernandes discorda, opta pelas palavras. Já vi fotos sensacionais que valem três mil palavras, dependendo do fotógrafo e de quem escolheu as palavras.

Esta semana no O Globo, na página internacional, vi uma foto que ficou gravada em minha retina, esta não sai mais, é para sempre. Tentarei descrevê-la e espero que saia em alguma revista semanal, ou se alguém na Gazeta ache na internet e reproduza no jornal. Ganhou o prêmio Pulitzer do ano merecidamente. Foi publicada no Rocky Montain, um pequeno jornal americano, e bateu os gigantes que concorreram com ele. Um caixão solenemente guardado por um soldado americano vestido de gala, com uma carabina em "posição de sentido" do lado esquerdo. Do lado direito a bandeira americana. Solene, soleníssimo, tudo em seu lugar em homenagem ao militar morto em combate no Iraque. Só que em frente, sua namorada colocou um colchão e deitou-se em cima, não saiu do lado de quem amava até a hora do enterro. Não houve apelo que a removesse dali. No chão um laptop ligado tocava as músicas que os dos ouviam em vida. A luz do computador iluminava seu rosto em lágrimas e o caixão de madeira atrás. Ficou assim até o último momento da solenidade. Quebrou o protocolo? A tradição militar ou o amor real e definitivo? Qual dos dois deve prevalecer? Opto pelo segundo. Quem honra existe em ser morto no fim do mundo para defender interesses dos senhores do petróleo? Que honraria confortará aquela moça destruída pela morte do companheiro que não esquece suas músicas prediletas. Mais forte que a corneta e o hino nacional é o som do computador que simboliza a vida e não o sacrifício em vão e descabido. Deram uma chance aos radicais e um lugar para combater, invadindo o Iraque e transformando as ruas em campos de batalhas para o confronto interminável com a guerrilha urbana. O desastre do Oriente Médio sepultará o Partido Republicano por muitos anos por Bush e seu grupo texano. Limitar-se a destruir a Al Qaeda e Bin Laden, era o papel a ser cumprido no Afeganistão e era justo após o ataque de 11 de setembro a Nova Iorque.

Deflagrar uma guerra suicida é outra história, morrer jovem no meio da poeira, sem causa visível, é injustificável. O barril de petróleo triplicou de preço, ameaça o mundo todo com preços fantásticos, levará a fome a milhões de pobres deserdados. Os Estados Unidos perdem aliados a cada dia que passa e ficarão sozinhos quando Tony Balir deixar o poder.

Meu Deus! Que foto incrível! Nunca vi um prêmio tão bem dado após a foto das crianças correndo nuas e queimadas no Vietnã. A grande derrota militar e moral dos Estados Unidos. Vejam bem, não do povo americano. Já estamos no século XXI e continuamos na era das cavernas, com toda a evolução tecnológica e científica, proliferam guerras localizadas que podem levar a uma grande generalizada. Fico pois com as imagens que fecham um triste mosaico da nossa existência frágil e temporal, a mãe abraçada ao filho enrolado na bandeira antes do enterro. A clássica foto das crianças queimadas correndo no Vietnã e por fim a da namorada deitada ao lado do caixão ouvindo as músicas da vida em comum, antes da partida definitiva. De onde viemos, para onde vamos, esta é a questão definitiva, não resolvida, nem explicada. Apenas a nossa fragilidade continua sempre presente.

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