Chegamos e fomos direto para o hotel Bühler, um banho de piscina quente e um forte jato d’água aliviaram minhas dores nas costas; afinal, foi uma longa viagem de carro, entre buracos e pedras, na estrada que leva a Mauá, na Serra da Mantiqueira. Bilhões de árvores nos receberam, uma gigantesca câmara de oxigênio colorida, pintada de verde intocável, parte de uma rara natureza que quase não existe mais.

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Pedro Vieira, tricolor como eu, com mais de 1.000 horas de Maracanã, descíamos a rua principal de Maringá (no lado mineiro), rente ao Rio Preto, que separa o Rio de Janeiro de Minas, com seus 5 metros de águas límpidas e pedregosas. Aí está outro charme da região, cariocas e mineiros dividem o mesmo espaço e os costumes, só que são diferentes na alimentação. São cem anos de convívio meio forçado pelas divisas dos mapas antigos.

A cada passo, os cuidados para não pisar errado, não havia luz nos postes, só a luz da lua em quarto crescente nos guiava entre os arvoredos da rua reta, que parecia sem fim. A cada 150 metros, víamos a lâmpada de uma pousada fechada às 8 horas da noite, já sem hóspedes naquela altura do mês. Este é um feriado peculiar, em que poucos saem de casa. É o dia dos nossos que se foram e ninguém viaja sem deixar flores.

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Quero esquecer o trabalho insano que tive nas eleições, quero esquecer principalmente os resultados. Medito em voz alta, que poderia e deveria ter nascido na Inglaterra. Lá, mentem menos e trabalham mais. Mas poderia ter nascido em Kandahar, no Afeganistão, ou no Congo Africano, pelo menos o Brasil é o país do futuro e do futebol. Além do mais, nossas mulheres nos salvam do tédio e da mentira diária que devemos suportar para sobreviver.

Encontramos a nossa amiga Márcia Moura, que faz jóias incríveis com as pedras de Minas. Recém-chegada da Argentina, e a pergunta foi óbvia e direta: "Comeu aqueles magníficos bifes de chouriço?" – "Claro que sim!", respondeu, mas o que intrigou a nossa artesã foi a incrível quantidade de livrarias em Buenos Aires, só comparável ao número de farmácias que temos por aqui.

Será que somos um país doente? Ou somos apenas uma população "automedicável"? Márcia continuou, enquanto fechava sua loja: "Comi cordeiros, empanadas maravilhosas e ouvi tangos inesquecíveis".

Uma luz a menos no caminho. Tínhamos de chegar logo, o Fluminense ia jogar e o Atlético tinha dado um chocolate no Vasco e queríamos ver os gols.

Você já andou no escuro entre árvores imensas, guiado somente pela luz do luar? É mais difícil do que andar em Nova Iorque no Natal, pela 5.ª Avenida, no meio de milhares de americanos comprando presentes, com a neve molhando seu rosto. Hoje, não sei o que gosto mais, vamos dividir, viajar um pouco enquanto restam forças e curiosidades sobre os outros povos. Millôr me disse que ainda quer ir à Turquia em sua última viagem. Quer ver o mar azul, o Bósforo e o mistério milenar de Constantinopla e suas mesquitas. Vamos levar o dr. Julinho Gomel como nosso guia. Médico e pacientes no mesmo barco. Aliás, nunca viaje sem seus remédios. Lá fora, os nomes são outros e não são vendidos sem receita. Experiência testada em quem tomou um choque térmico na Suíça. O trem arrancou a 10°C negativos, a janela abriu, vento por toda parte e eu sem camisa. Fui salvo por uma médica portuguesa, que me aplicou um soro na veia. O que estava fazendo sem camisa no trem? Colocando uma camiseta de lã no banheiro, quando desceu a vidraça.

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Bem, consegui terminar um artigo sem falar em política.