Ouvido ontem de um taxista:
— Passei três horas encostado esperando corrida. Nunca enfrentei um período tão ruim como tem sido este ano.
Ouvido ontem de um médico:
— As consultas pelos planos de saúde estão caindo muito no consultório. As pessoas estão perdendo emprego e ficando sem plano.
As consequências de dois anos e meio de recessão são sensíveis no nosso cotidiano, e de vez em quando são captadas com semelhante crueza pelas estatísticas. Nesta quinta-feira (25) mesmo saíram dados de um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), parte de uma sondagem de opinião intitulada Retratos da Sociedade Brasileira. Eles mostram, entre outras coisas, que 48% dos entrevistados passaram a usar mais transporte público em função da crise (confirmando o que disse o taxista) e que 34% deixaram de ter plano de saúde (ratificando a impressão do médico). Além disso, 14% indicam que mudaram seus filhos para escola pública – fenômeno que está ligado também à política de cotas para alunos de escolas públicas para ingresso em universidades. O levantamento da CNI foi feito entre 24 e 27 de junho, com 2.002 entrevistas em 141 municípios brasileiros.
Informações como essas deveriam trazer um sinal de preocupação para os brasileiros. Essas mudanças tendem a provocar uma pressão maior sobre os serviços públicos, que já andam em situação difícil em consequência das quedas na arrecadação, provocadas também pela recessão – isso sem contar com o fator corrupção, que, conforme assinalam com propriedade os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, mata pessoas porque as priva de serviços de saúde e segurança, por exemplo.
Como responder a essa pressão? A maneira mais simples e rápida é elevando impostos. Também é a mais impopular, e tem o efeito colateral de retardar o crescimento, já que tira de circulação recursos que alimentariam a retomada da iniciativa privada. Nesta semana, o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, disse que “por ora” o governo não cogita elevar impostos. Mas não será surpresa nenhuma se a hora de aumentar impostos chegar quando o processo de impeachment for aprovado, dando legitimidade maior ao grupo político que assumiu a gestão do país.
O lado bom
A mesma pesquisa aponta que 78% dos entrevistados estão poupando mais, como uma forma de se precaver para possíveis dificuldades futuras. Pelo menos uma notícia boa.
E você, está preparado para momentos (ainda mais) difíceis?
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