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Para tratar com seriedade de finanças pessoais, às vezes é preciso sair um pouco das questões mais práticas e partir para uma leitura explicativa do ambiente econômico, que caminhe para uma tradução de atos e discursos em termos daquilo que realmente importa para a população: os seus reflexos na vida econômica das pessoas, em especial seus investimentos e suas dívidas. É o caso da polêmica que se instalou entre economistas desde a semana passada, quando foi divulgada a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).

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Tudo porque os membros do Copom afirmaram que o cenário atual "contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito". Aí começa a discussão, com economistas dizendo que o Banco Central adotou uma proposta do plano de governo da presidente Dilma Rousseff e que essa atitude não combina com a autonomia que se espera da autoridade monetária.

Menos, pessoal. Nos últimos anos, o BC baseou-se amplamente nas expectativas dos bancos e consultorias para definir suas taxas, como se economistas reunidos em conclave pudessem ganhar poderes sobrenaturais. O vaivém dessas estimativas deixa claro que isso é bobagem. Uma bobagem que fez todo sentido na década passada, enquanto perduravam temores de que o governo Lula fizesse mudanças drásticas na política econômica. Não fez. Essa fase ficou para trás.

O normal é o contrário, é o mercado ficar atento ao que a autoridade monetária faz em sua função de preservar a moeda. Um Banco Central que apenas obedece ao mercado não é autônomo – autômato, no máximo, como um robozinho bem programado. A regra anterior levou o país a uma situação em que inflação foi contida, mas gerou uma distorção tremenda nas taxas de juros. Não vou entrar na lenga-lenga da "maior taxa de juros do mundo", mas é inegável que a Selic está em patamares altos demais para uma nação democrática e estável, em tempo de paz. É só ver o gráfico ao lado, onde se pode constatar a distorção. Se houve algum beneficiário desse efeito colateral, foi o sistema bancário. Por isso não chega a ser surpreendente que os bancos encontrem razões teóricas para reclamar da trajetória descendente da Selic.

O caminho, então, é ladeira abaixo. Espera-se que a descida seja responsável, compassada, mas duradoura. Para quem está investindo ou pensa no assunto, isso significa que os ganhos de renda fixa tendem a ser menores no futuro. A diferença tende a ser maior quanto mais longo o prazo da aplicação – quem está poupando com os olhos numa aposentadoria para além de dez anos, por exemplo, deve estar mais atento.

Abre-se aí uma oportunidade de "travar" os porcentuais e desfrutar das taxas altas de hoje num futuro de juros mais baixos. Isso mesmo – você pode tirar algum proveito dos juros altos. É possível fazer isso por meio do Tesouro Direto, adquirindo papéis pré-fixados como as NTN-F ou ainda aplicando nas NTN-B, que garantem um porcentual de juros mais a inflação do período.

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Outra consequência dos juros menores do Brasil de um futuro próximo é que será difícil obter rentabilidades altas sem correr algum risco. A bolsa, que está engatando uma boa valorização este ano (quase 10% em 30 dias!), tende a estar cada vez mais presente na vida dos investidores. Nada será como antes.

Largura

No Brasil, o Banco Central precisa manter a inflação (IPCA) dentro de uma faixa que vai de 2,5% a 6,5% no ano. Essa zona de flutuação é larga o suficiente para permitir ao BC buscar um cenário em harmonia com o que um país em desenvolvimento precisa: preços sob controle, crescimento em alta, emprego, investimento. Desde que aja com responsabilidade e sem beneficiários ocultos.

Impostos

Alguns leitores escreveram questionando o tema da coluna da semana passada, que falava sobre os juros ocultos no sistema de descontos no IPVA e no IPTU, que ficam entre 22% e 23% ao ano. Mas é isso mesmo.

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É comum que as pessoas confundam o valor do desconto com o dos juros, mas esse é um erro matemático. A lógica deve ser a mesma de qualquer outro parcelamento. Siga este exemplo, retirado de um anúncio publicitário. Uma geladeira custa R$ 1.258,20, divididos em 18 parcelas. À vista, ela sai por R$ 799 – "desconto" de 36,5%. Os juros, entretanto, são de 1,99% ao mês, que equivalem a 85,63% ao ano.

Não se engane.

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