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franco iacomini

As finanças do bolinho de banana

Dia desses eu caminhava pela Avenida República Argentina quando senti cheiro de cera de assoalho – daquelas de cheiro forte, que antigamente a gente passava no piso das casas, não esses sucedâneos modernos com aroma artificial de lavanda ou coisa parecida. Por um instante, eu me transportei: não estava mais na Água Verde de 2016, mas no Bacacheri da década de 1970, brincando com o pesadíssimo escovão que dava brilho ao piso da casa da minha avó Alma. Uma experiência proustiana, que me levou a pensar no poder do olfato e do paladar na formação das nossas memórias. No café da tarde e nos bolinhos de banana da vó Sivoca, consumidos em frente à tevê que transmitia filmes dos Trapalhões na Sessão da Tarde.

Ando meio saudosista, sabe? Nesse espírito, gostaria de propor aos leitores uma pergunta: que cheiros e sabores estão mexendo com você? E quais são as impressões que você está ajudando a imprimir na próxima geração? Minha suspeita é que, na sociedade industrializada do século 21, biscoitos empacotados estejam ocupando o lugar da família na memória dos mais jovens. O que é uma pena.

Você pode pensar o que isso tem a ver com finanças pessoais. Muito, creio eu. A escolha entre fazer um bolo ou comprá-lo pronto no mercado, por exemplo, é uma escolha de alocação de recursos financeiros e não financeiros (tempo para preparação e para aprender novas receitas), e depende de uma escala de prioridades. Já a preparação para a aposentadoria inclui uma série de ações financeiras – e, convenhamos, o que seria das nossas memórias sem a convivência com nossos avôs e avós?

O leitor dessa coluna já sabe que, para mim, a forma como cuidamos das nossas finanças refletem nossos valores. Não valores financeiros, mas o conjunto das virtudes e ações que sustentam nosso modo de pensar e viver. E creio que essa questão, digamos, afetiva é algo que devia ser levado em conta quando tratamos de coisas urgentes como a reforma da Previdência. É certo que o modelo de Previdência Social adotado no Brasil é complicado, porque se baseia na contribuição dos trabalhadores ativos para sustentar o benefício dos inativos. E o número de inativos tende a crescer mais rapidamente, por razões demográficas. Além disso, a longevidade crescente faz com que os benefícios sejam pagos por mais tempo.

Entretanto, a convivência de gerações é algo que faz parte da história da humanidade desde o tempo em que os clãs viviam todos juntos, em grandes comunidades familiares. A separação de hoje tem contribuído para criar jovens centrados em si mesmos.

Como criar um sistema de previdência financeiramente equilibrado, mas que não obrigue os brasileiros a trabalhar em horário integral até os 80 anos? Sinceramente, não sei. Mas eu sou só um jornalista. Minha tarefa é incomodar consciências, não equilibrar contas...

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