Com dinheiro na mão (ou no bolso, na conta...) você tem sempre duas possibilidades: gastar ou guardar. Há uma variedade enorme de possibilidades para gastar, e basta assistir a três minutos de intervalo comercial no horário nobre para constatar isso. Mas há uma gama bem menor de motivos que podem levar o sujeito a economizar. O economista John Maynard Keynes, por exemplo, listou oito, que vão do desejo de manter uma reserva para imprevistos futuros até a pura sovinice ou seja, a pessoa guarda dinheiro simplesmente porque não quer gastar, como o Ebenezer Scrooge do Conto de Natal de Dickens. As probabilidades, portanto, favorecem muito mais o esbanjador que o poupador.
Essa introdução pode fazer o tema parecer muito filosófico, mas cada um de nós é confrontado com ele todos os dias, em especial quando se trata das compras de impulso. Digamos que você esteja na fila do caixa do supermercado, com as compras do mês. Enquanto coloca suas mercadorias na esteira, percebe que o mostruário ao lado está cheio de bombons. Mesmo que você não raciocine sobre isso por mais do que dois milissegundos, está colocado o impasse: um desejo (você gosta de bombons) contra a possibilidade de preservar seu patrimônio contra mais um pequeno ataque. E você comerá o chocolate, provavelmente.
Entro nesse assunto estimulado pelo e-mail do leitor Alan. Ele recebeu da ouvidoria do Itaú Unibanco a notícia de que receberia de volta R$ 3 mil que havia colocado em títulos de capitalização do Itaú-Unibanco, "depois de uma longa saga", conforme ele descreve. Ele pede opinião sobre o que fazer com os recursos, levando em conta três opções: 1) investir na casa onde mora (fazer calçada, trocar o piso da garagem, plantar grama e árvores); 2) acrescentar ao valor guardado na poupança para dar entrada em um carro; ou 3) investir no Tesouro Direto.
São três opções bastante diferentes em termos de finalidade. Ao aplicar o dinheiro nessas pequenas reformas domésticas, Alan não irá obter nenhum ganho financeiro. Mesmo que decida vender o imóvel, essas mudanças não irão valorizá-lo em nada. Essa opção dará a ele alguma alegria, por melhorar o ambiente onde vive. Guardar o dinheiro para apressar a compra do carro atenderá a um desejo pessoal do leitor, embora sua satisfação plena ainda demore. Pôr o dinheiro no Tesouro Direto trará a ele benefícios difusos. Ele terá mais recursos guardados, o que é bom, mas talvez não perceba isso como vantagem imediata.
Quando guardamos dinheiro, o esbanjador dentro de nós sempre estará à espreita, berrando que poderíamos fazer uso melhor dele no consumo. Por isso é importante estabelecer prioridades e metas para os investimentos. Economizar torna-se muito mais natural para as pessoas quando elas vinculam o sacrifício que estão fazendo (ou seja, o que se deixa de consumir) a uma vantagem clara. Isso fortalece a vontade do poupador e fornece a ele razões para resistir à tentação do consumo.
Por isso a resposta ao leitor é tão difícil. Qual das três prioridades embelezamento da residência, compra do carro e formação da poupança é mais importante para ele? Essa é uma resposta que somente Alan pode dar, e sugiro que dedique algum tempo para definir sua própria escala de valores. Ele ainda pode dividir os recursos entre as três possibilidades, mas isso também vai depender daquilo que é mais importante para ele. Afinal, o risco de dividir os recursos é que eles sejam insuficientes para cada um dos itens.
Alerta
Um detalhe na história de Alan é que ele conta que teve de acionar a ouvidoria do banco para reaver o dinheiro aplicado em títulos de capitalização. As instituições vivem nos oferecendo esse tipo de papel, mas ele exige muito cuidado. Sua rentabilidade é muito baixa na verdade, ela é quase sempre menor do que a inflação e as regras sempre incluem multas para quem sacar os valores antes do fim do plano, o que pode até mesmo resultar em valores menores do que o investido. Perda líquida, portanto.
O argumento de venda desse tipo de aplicação nunca é a rentabilidade, mas a possibilidade de ganhar prêmios altos em sorteios. Se você quer ser investidor, e não apostador, fique longe dos títulos de capitalização. Se quiser apostar, melhor é ir à lotérica e comprar um bilhete da Mega Sena, que é baratinho, e experimentar pôr o restante dos seus recursos num investimento de verdade.
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