Nos desenhos animados dos Flintstones, as personagens de Wilma e Betty eram donas de casa bem comportadas, mas com alguns arroubos consumistas. Nessas ocasiões, a trilha sonora apresentava um toque de corneta e elas, já com cartões de crédito na mão, davam seu grito de guerra: "Às compras!" em inglês, "Charge it!", expressão usualmente associada a compras no cartão. A época em que os desenhos foram produzidos (de 1960 a 1966) coincidiu com a popularização desse meio de pagamento nos Estados Unidos, e as piadas sobre os hábitos financeiros dos americanos contribuíram para transformar a série em um retrato crítico da sociedade de seu tempo.
No Brasil, estamos agora na ressaca da explosão dos cartões o ímpeto maior foi há uns dois anos, o setor continua crescendo, mas a situação é ligeiramente diferente. No gráfico desta página você vê a evolução do tíquete médio das compras (ou seja, o valor médio gasto por cliente, por mês) com cartão de crédito e débito desde 2010. O crescimento tem sido consistente, mas o ritmo é outro. Em março de 2013, por exemplo, o aumento em relação ao mesmo mês do ano anterior foi de 1,9% considerando só os cartões de crédito, o aumento foi de 0,4%. Se você levar em conta que a inflação nos 12 meses anteriores somou 6,5% (pelo IPCA), dá para perceber que, em termos reais, houve até um decréscimo.
O mercado continua crescendo, porque há novos "entrantes", gente que não tinha cartão e agora tem. Mas a média dos gastos não tem evoluído tão bem. Por trás dessa variação há, provavelmente, o fator endividamento. Segundo o Banco Central, as dívidas comprometem em média 45,36% da renda das famílias brasileiras nos últimos 12 meses (os dados são de agosto). Não é de se admirar que os gastos com cartão estejam perdendo força. Ainda mais o cartão, que é a principal fonte de endividamento das pessoas físicas.
Gosto de cartões de crédito. Acho um instrumento prático para administrar as contas da casa e evitar aquele velho "sobrou mês, faltou dinheiro", sabe? Usando o cartão você pode concentrar os gastos em uma data mais próxima do recebimento do salário, de forma a regularizar o fluxo de caixa da casa. Para mim, esse é o seu principal ponto positivo.
Pontos negativos
Há dois pontos negativos principais, entretanto. O primeiro é que o uso do cartão torna o consumo indolor. Como não há desembolso imediato, muita gente tem a ilusão de que tudo é fácil e barato até que chega a fatura. É uma visão infantil: crianças pequenas costumam pensar que o dinheiro que sai do caixa automático, por exemplo, é um presente que o banco dá. Com o cartão se dá o mesmo.
Outro ponto negativo é tratar o cartão como uma das despesas da casa, quando, na verdade, ele é um meio de pagamento. Ou seja, ele é um instrumento para você pagar suas despesas. Quem está em dificuldades financeiras deve olhar com cuidado a fatura e avaliar cada despesa feita ela era realmente necessária? Alguns bancos têm nos seus sites ferramentas que geram gráficos que dividem seus gastos em categorias. Assim é possível saber quanto você gastou no supermercado, no posto de gasolina, em restaurantes... É uma boa maneira de entender melhor para onde vai o seu dinheiro. Será que você gastaria o mesmo se tivesse de pagar cada conta em dinheiro?
Lojas
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) mostram que, em média, 26,5% dos gastos com cartão são feitos no comércio varejista em geral (lojas de roupas e outros produtos, por exemplo). O varejo alimentício (supermercados) é a segunda área onde mais se gasta: 18,8%. Seguem-se as categorias "Demais comércios atacadistas e varejistas" (que inclui os atacadões e as lojas de materiais de construção, por exemplo), com 18,1%, e "Turismo e entretenimento" (companhias aéreas e hotéis, entre outros estabelecimentos), com 15,9%.
Você está na média ou seus gastos fogem do convencional?