Alguns dados salteados chamam a atenção de quem dá uma olhada nas tabelas do IBGE sobre inflação, que saíram na semana passada. Os números são de Curitiba e se referem às planilhas do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a variação de preços para famílias com renda mensal de até 40 salários mínimos, em maio.
Por que o custo de reforma de estofados subiu 28,6% este ano?
O que há de tão especial nos estádios de Curitiba, para que o preço dos ingressos tenha subido 12,8% em cinco meses? A julgar pelo desempenho dos clubes no campeonato brasileiro (com a honrosa exceção do último fim de semana), a torcida deveria era receber para ir ao campo...
Há alguma razão de segurança para que os seguros de automóvel tenham subido 10,8% em Curitiba, enquanto na média das 11 capitais pesquisadas pelo IBGE houve uma queda de 4,3%?
Questionamentos (e brincadeiras) à parte, o índice já captura alguns reflexos do clima sobre a mesa e o bolso dos habitantes da capital. A categoria "Hortaliças e verduras" apresentou alta média de 20% este ano, sendo que a popularíssima alface subiu 20,6%. Entre os "Tubérculos, raízes e legumes", a elevação acumulada atinge 21%, sendo que a batata subiu 72,5% 13,6% só em maio. O leite subiu 10,2% em maio, antecipando a entressafra.
Outros produtos merecem entrar na cestinha, justamente porque estão na situação inversa. O feijão preto, por exemplo, baixou 40% desde o início do ano (11% no mês passado). Entre as frutas, uvas e maçãs caíram 12% em maio.
Pensando nisso, é melhor prestar atenção na hora de fazer as compras. Nada de simplesmente seguir a listinha. Um pouco de atenção pode fazer diferença.
Mais inflação
Em tempos de previsões flutuantes para o futuro da economia brasileira, há uma razoável uniformidade nos prognósticos sobre a inflação que constam do Focus, aquele relatório que o Banco Central elabora todas as semanas com as estimativas de bancos e consultorias sobre variáveis econômicas do país. Nos últimos dois meses, a variação foi na segunda casa decimal. Já no PIB, foi de meio ponto porcentual. O PIB, no entanto, é um dado muito mais sensível para a economia nacional.
Quem se fia muito por dados como o do Focus pode errar feio. Os empresários já sabem que esses palpites são bem úteis para saber em que direção vai o mercado, mas também entenderam que nada substitui a realidade das vendas.
Pena que o BC dependa tanto deles para definir os rumos da nossa política monetária.
Cachorro quente
Quem confia demais nos gurus do mercado corre o risco de sofrer como o dono da banquinha de cachorro quente de uma velha história. O cara tinha uma banquinha em uma cidade do interior, e com os ganhos honestos tirados dela custeou os estudos do filho que cursou economia numa faculdade importante do Rio de Janeiro.
Um dia, o filho foi visitar a família e ficou horrorizado com os altos custos da banquinha do pai, que usava produtos de primeira linha e tinha uma margem de lucro pequena. O filho o convenceu de que havia uma crise chegando, então o homem mudou o fornecedor de pão por um mais barato, passou a misturar água para o molho render mais e passou a usar uma vina (ou salsicha, se o leitor assim preferir) mais ordinária.
Depois de algum tempo, os clientes sumiram e o pai teve de fechar a banquinha. Mas estava contente: se fazendo tudo o que o filho havia sugerido os negócios foram tão mal, imagine se ele não tivesse seguido os conselhos do jovem...
Faltou dizer
Na semana passada, esta coluna lembrou que está aberta a consulta pública do Banco Central sobre o mercado de cartões de crédito. Faltou dar o prazo para que as pessoas interessadas opinem sobre o documento do BC a respeito do assunto. É possível fazê-lo até 30 de junho.
Leia mais na semana que vem. Até lá, envie ao e-mail ali de cima suas observações, dúvidas e sugestões. O que você gostaria de ler nesta coluna?