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Financês

Juros cada vez mais reais

Todas as semanas o Banco Central coleta com bancos, corretoras, consultorias e universidades as expectativas de cada para alguns indicadores-chave da economia. Essa é a pesquisa Focus – de vez em quando nós a noticiamos aqui no jornal, o leitor já deve ter visto alguma coisa a respeito. Normalmente os números mudam pouco de uma pesquisa para outra, coisa de um ou dois décimos. Só analisando períodos um pouco mais longos, entretanto, é possível avaliar a evolução dessas estimativas.

Pois nas últimas semanas temos tido movimentos bem mais drásticos. Não na estimativa geral, porque esta é feita com uma centena de fontes, e muitas delas emitem suas opiniões em relatórios mensais ou bimestrais – demoram, portanto, a reagir às notícias da economia. Mas aquele grupo que o BC classifica como top 5 – ou seja, aquelas fontes que têm acertado com mais frequência os movimentos do mercado – está se movendo com alguma rapidez, em especial no que se refere à taxa de juros e à inflação.

Há pouco menos de dois meses, o relatório de 5 de abril mostrava o top 5 convergindo para uma previsão de taxa Selic a 9% ao ano no fim de 2012. Hoje, elas apontam para 8% ao ano. Nesse meio-tempo, a estimativa de inflação para este ano subiu de 4,82% ao ano para 5,22% ao ano, na semana passada. No relatório de ontem, essa previsão havia recuado um pouquinho, para 5,18%. Também é uma mudança rápida. Juntando os dois números, chega-se a um terceiro: os juros reais, que são calculados descontando a taxa de inflação da taxa básica de juros. Vale lembrar que a presidente Dilma Rousseff vinha falando em baixar os juros reais do país para 2% ao ano. Foi uma promessa de campanha que muita gente nem levou muito a sério – afinal, pouca gente leva as promessas de campanha a sério neste país –, mas que pode muito bem tornar-se realidade.

Isso é bom ou é mau para o seu rico dinheirinho?

A taxa de juros alta demais é um dos problemas mais difíceis de resolver neste país. Baixar os juros nominais, portanto, é uma medida importante, e não há o que criticar nisso. O mesmo vale para os juros reais: países mundo afora estão aproximando suas taxas de zero para resistir à tendência de recessão provocada pela sequência de crises que o Hemisfério Norte anda enfrentando, e o Brasil também precisa se defender.

Perceba, entretanto, que a conta para baixar os juros reais inclui duas variáveis: os juros nominais, que estão caindo, e a inflação, que está em alta. Se juros baixos são bons para contornar uma situação de crise (afinal, eles obrigam o dono do capital a transformá-lo em negócios e empregos, em vez de colocá-lo no banco para render), inflação alta não é nada desejável.

A inflação reduz o poder de compra do consumidor. Se ela se estabelecer em patamares mais altos, o comércio e a indústria, que andam faturando alto com o aumento da renda do brasileiro, terão dias menos gloriosos. E terão de demitir, o que significa menos empregos e, de novo, menos vendas. Em lugar do círculo virtuoso que temos assistido nos últimos anos, teríamos uma espiral de encrencas.

Além disso, há a questão da renda disponível, que hoje em dia já não é tanta. Sabemos que os brasileiros comprometem 42% da sua renda anual com dívidas, segundo dados do Banco Central. Qual seria o impacto de um aumento generalizado de preços sobre o orçamento doméstico? Em algum momento, os chefes de família terão de decidir se pagam uma conta ou fazem a compra do mês no supermercado. Aí, sim, o país vai conhecer o que é inadimplência.

Em resumo, há muito o que comemorar na queda dos juros reais – que deve se mostrar com mais força amanhã, quando o Copom anunciar a taxa mais baixa da história do país. Mas o Brasil continua precisando de estabilidade nos preços, talvez mais do que em qualquer outro momento dos últimos dez anos.

Previdência

Juros em queda e inflação em alta resultam em uma equação especialmente difícil para os fundos de previdência. Os ganhos encolhem, enquanto o valor real dos recursos acumulados é corroído pelo aumento de preços. Essa é uma questão que os bancos e os poderes reguladores (Banco Central e Susep) precisam encarar de frente, o mais cedo possível.

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