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Não dê tanta trela aos economistas

Quando se trata de economia, há uma fixação nacional por números, e por alguns em especial: inflação, PIB, juros, contas do governo, balanço de pagamentos e coisas do gênero. Como eles costumam estar correlacionados, costuma-se atribuir a um os problemas do outro – se temos inflação alta, é porque os juros estão baixos, se o PIB não cresce, é porque os gastos do governo são excessivos.

Na maior parte das vezes, esse conhecimento é correto. Mas falta alguma coisa, algo que explique porque, mesmo nas nossas melhores épocas, o Brasil continua falhando em construir o tal crescimento sustentável, sadio, que não desmorona à primeira crise internacional nem recua em face das dúvidas que surgem às vésperas de uma eleição apertada. A solução pode até estar nos números, mas não nesses que costumamos olhar tão diligentemente.

Não tem nada de muito novo nisso. Em 1904, o alemão Max Weber publicou “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, que, no fundo, é uma forma de responder a isso. Em 1956, o austríaco-americano Bert Hoselitz escrevia sobre “Os fatores não-econômicos no desenvolvimento econômico”, um dos temas que o tornaram uma espécie de outsider na instituição onde lecionava, a Universidade de Chicago, conhecida pelos economistas defensores do Estado mínimo (aqui na América do Sul, economistas locais com passagem por lá ficaram conhecidos, pejorativamente, como “Chicago boys”). Hoselitz focava mais em questões como o nível educacional e a disponibilidade de mão-de-obra, reconhecidos já naquela época como gargalos a impedir o desenvolvimento.

Essa discussão já temos aqui, mas ela é insuficiente. Precisamos falar sobre outras coisas. Estudos mais recentes apontam um papel ainda não definido do acolhimento aos direitos humanos como um fator de estímulo ao crescimento econômico. A maneira como tratamos minorias e detentos, por exemplo, tem influência no PIB. E há as questões mais óbvias, como a da corrupção. Em 2008, um grupo de pesquisadores da Croácia, Bulgária e Estados Unidos compararam os dados do Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional com o crescimento do PIB. Descobriram que, no período de 1999-2004, uma melhora de um ponto no índice de corrupção levava a um aumento de 1,7 ponto percentual no PIB. O Brasil está hoje em 76º lugar no ranking da corrupção, com 38 pontos. O Uruguai é o 21º, com 74 pontos. Por essa lógica, igualar nosso índice com o do Uruguai já significaria um crescimento de 61% no PIB.

O milagre econômico desta década, portanto, está mais nas mãos de gente como os procuradores da Lava Jato e a delegada que apura o caso da menina do Rio de Janeiro. Não está nas mãos de Meirelles e sua turma de economistas. Leitor querido, pare de dar tanta trela para eles.

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