Muito investidor nunca tinha ouvido falar em Hotéis Othon até o começo deste mês. A empresa administra 21 hotéis pelo país sendo sete na cidade do Rio de Janeiro e cinco no exterior (Portugal, Espanha e Estados Unidos). Com a confirmação de que o Rio de Janeiro receberia os Jogos Olímpicos de 2016, os papéis da empresa decolaram e assumiram um outro patamar (veja o dia-a-dia das ações da empresa no gráfico ao lado). Até o fechamento de ontem, a empresa se valorizou em 83%. Será que ela vale tudo isso? A julgar pelas demonstrações financeiras disponíveis no site da bolsa (a empresa não tem área de Relações com Investidores em seu próprio site), a Hotéis Othon teve no primeiro semestre deste ano prejuízo de R$ 7,1 milhões. Seu patrimônio líquido é negativo em R$ 58,5 milhões grosso modo, isso significa que, mesmo que vendesse todos os seus bens, a empresa ainda ficaria devendo esse valor aos seus credores. A auditoria independente a que foi submetido o balanço do ano passado (uma exigência às empresas de capital aberto) apresenta uma série de ressalvas. Ou seja, os auditores apontaram problemas na contabilidade da companhia. A certa altura, o auditor diz o seguinte: "A Companhia encontra-se com passivo a descoberto, bem como vem apresentando constantes prejuízos operacionais, índices de liquidez negativos e fluxos de caixa operacionais insuficientes. Como conseqüência, ao longo dos últimos anos não tem conseguido honrar diversas obrigações de sua responsabilidade. A continuidade normal das operações da Companhia está relacionada à obtenção de um nível de rentabilidade que produza o suficiente e necessário capital de giro ou novos recursos por parte de acionistas e/ou de terceiros".
Isso significa que, na opinião do auditor, a Hotéis Othon está muito mal e só vai se levantar caso alguém coloque dinheiro novo nela. E bastante dinheiro.
Trata-se, ainda, de uma empresa de baixíssima liquidez. Ontem, por exemplo, foram registrados apenas 28 negócios com a ação. De onde então os investidores, muitos deles pessoas físicas, tiraram a ideia de que seria um bom negócio comprar ações de uma empresa nessas condições? Andrés Kikuchi, analista da corretora Link Investimentos, tem uma teoria a respeito. "É o buxixo do fórum", define. O tal fórum são os fóruns de investidores, sites cuja popularidade tem crescido muito nos últimos anos e que reúnem pessoas interessadas no mercado. "O cara ouve falar alguma coisa sobre determinada empresa e vai atrás. Às vezes nem sabe o nome da empresa, só o código de negociação." Para Kikuchi, o movimento pode ter começado porque alguém se lembrou da Hotéis Othon e ligou sua forte presença no Rio à oportunidade de ganhar dinheiro com eventos futuros (como Copa e Olimpíada), sem, no entanto, dar-se conta da situação atual da empresa.
Na semana passada, esta coluna falou sobre conselhos. A sugestão era que, antes de fazer um investimento ou fechar um negócio de grande porte, a pessoa procurasse outras opiniões, para construir um ponto de vista mais sólido. O princípio continua valendo, mas é preciso lembrar que fóruns na rede não são o melhor lugar para buscar conselhos. Em muitos deles, o usuário não sabe bem com quem está falando. Pode ser alguém com anos de experiência no mercado e muito conhecimento acumulado, mas também pode ser só mais um criador de boatos.
Princípio
Melhor não esquecer que, quando você compra uma ação, está na verdade tornando-se sócio de uma empresa. Nesse caso, é bom saber como ela está. Se o seu negócio é aposta, melhor esquecer no Brasil, jogos de azar são proibidos.
Escreva
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