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Franco Iacomin

O problema dos seminovos

Deu aqui na Gazeta que as vendas de carros seminovos está bombando. Reportagem do editor Renyere Trovão mostrou, nesta quinta-feira (24), um aumento de 24% na venda de carros com até três anos de idade na comparação do primeiro bimestre do ano com o mesmo período de 2015. Mesmo com juros mais altos que os do carro zero.

Um estudo sobre esse tipo de mercado, publicado em 1970, rendeu a George Akerlof o Prêmio Nobel de Economia de 2001. E o raciocínio do economista pode dar um banho de realidade naqueles que estão atrás de bons negócios nesse mercado. Basicamente, o que ele diz é que, quanto mais novo o carro que está à venda, maior a chance de ele ter algum problema. Algo que já deve ter passado pela cabeça de quem olha os classificados e dá de cara com o anúncio de um carro com pouco tempo de uso: “O que será que tem de errado com ele?”

Sabendo disso, os comerciantes de usados tendem a pagar menos por usados. E os donos de bons carros, sabendo que receberão menos do que creem ser justo, mantêm seus carros por mais tempo. Assim, ocorre aquilo que o leitor que já foi a uma loja e recebeu uma má avaliação de seu carro pode ter pensado: quando eu vou vender, sempre me fazem acreditar que o meu veículo vale menos.

Ou seja, comprar um bom carro usado sempre vai dar trabalho.

A última bolacha

Mais um agravante para quem está atrás de trocar de carro: mesmo com crise, há muitos comerciantes que se portam como se fossem os guardiões da última bolacha do pacote. São inflexíveis na negociação e, às vezes, nem mesmo retornam ligações. Se o carro em vista estiver entre aqueles poucos que continuam bons de mercado, fica mais difícil ainda. Pura falta de cortesia, não se faz isso com cliente.

E o argumento de que o pagamento é à vista – que aos olhos do comprador deveria parecer vantajoso – não seduz tanto assim, porque concessionárias e vendedoras de usados frequentemente recebem taxas compensações (“rebates”) sobre os negócios fechados com financiamento. Em alguns casos, a venda parcelada pode ser mais atraente para quem vende que o dinheiro vivo.

Aí fica difícil mesmo...

Melhor ficar de olho...

Quando se trata de operações de estatais, é melhor ficar de olho no que acontece fora do Brasil. Basta lembrar o que ocorreu com as refinarias de Pasadena e Okinawa, hoje alvo de investigação. Foram compradas pela estatal em um tempo em que o entusiasmo por um Brasil que não parava de crescer justificava qualquer negócio. Deu no que deu.

Agora, a mesma estatal que foi às compras em anos passados está liquidando ativos no exterior. A crise justifica qualquer negócio. Como nas compras do passado, entretanto, a transparência é zero.

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