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O sentimento de “não dá mais”

“Não vai ter jeito, na semana que vem eu vou ter de baixar o preço”, confidenciou o dono do estacionamento. O proprietário do restaurante disse algo parecido: “o movimento nunca caiu tanto, vou precisar fazer alguma coisa”.

É o que se vê por aí. Bares ampliando promoções de happy hour, restaurantes reduzindo o preço do quilo, simplificando o cardápio para poder cobrar menos dos clientes, fazendo promoções em sites de compras coletivas, inventando novidades para atrair novos clientes ou fazer retornar velhos conhecidos.

Prestadores de serviços pessoais também têm baixado preços, o que não é de surpreender. Estamos em tempos de crise, o que quer dizer que a unha feita na manicure precisa durar mais e o cabelo pode muito bem aguentar mais uns dias antes de ser aparado de novo. Quarenta reais poupados em serviços como esses são quarenta reais a mais no bolso -- e que podem, por exemplo, complementar a compra do mercado.

O IPCA fotografou

Os números começam a aparecer nos dados do IBGE. No IPCA de setembro, o preço do cabeleireiro caiu 0,15% em Curitiba. Serviços de manicure subiram 0, 12% no mês, mas bem abaixo da taxa geral de Curitiba, que foi de 0,54%. Serviços de lazer e tidos como supérfluos também tiveram o preço reduzido: -2,3% no caso dos cinemas; -2% nos serviços de pet shops; -2,3% nas danceterias, -3,1% nos hotéis (todos os números se referem ao IPCA de Curitiba).

Parecemos estar diante de um momento de inflexão. Um sentimento coletivo de “não dá mais” está atingindo a sociedade, talvez pela paulada que ela está levando pelo lado do emprego. Sintomática é a reportagem da Agência O Globo, publicada aqui na Gazeta na edição de segunda-feira: as demissões já deixaram meio milhão de brasileiros sem plano de saúde. O medo de ficar desassistido está às portas.

Aí cada um se vira como pode para tentar manter seus ganhos relativamente estáveis. Alguns mudam seus padrões de cobrança, como aqueles casos que abrem este texto. Outros trabalham no lado dos gastos. Ouvi de um comerciante que substituiu todas as lâmpadas de suas lojas (que eram, na maioria, fluorescentes compactas) por led. Não foi barato, mas ele baixou a conta de energia à metade do que era no ano passado -- uma baita vitória, levando em conta que o preço subiu 70,2% em Curitiba só neste ano (de novo, segundo o IPCA do IBGE).

Consequências

Duas consequências pode-se esperar desse movimento de autoproteção. A primeira é que os índices de preços devem refletir essa acomodação nos preços, que tendem a cair em mais áreas na sequência. Essa é a lógica de momentos de recessão como o que vivemos hoje. Na verdade, um encolhimento econômico de 3% -- é o que se espera para 2015, de acordo com as estimativas do mercado -- pode mesmo levar à deflação. Em 2013, por exemplo, o PIB da Grécia encolheu 3,9%, e o país registrou deflação de 0,9%. Entende-se: se a economia está asfixiada, produtos e serviços são vendidos a preços mais baixos, o que se reflete nos índices. Possivelmente seria o que experimentaríamos por aqui, não fosse tão grande o peso daqueles preços cuja variação está atrelada por contrato à inflação passada.

A segunda é bastante positiva: ao fim da crise -- acredite, ela vai terminar, até a longa noite de instabilidades dos anos 1980 terminou um dia! -- a tendência é que a economia brasileira esteja mais enxuta e forte para decolar.

A intensidade dessa decolagem, entretanto, não vai depender apenas do empreendedor brasileiro. Se governo e Congresso colaborarem para limpar o caminho do crescimento, todos ficarão felizes.

E aí?

Você está vendo algum preço cair? Mande suas observações para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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