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O telhado e o gato

Sabe o que significa quando uma agência como a Standard & Poor’s coloca o rating do Brasil sob perspectiva negativa? Que o gato do ajuste fiscal subiu no telhado.

A expressão tem origem em uma piada antiga. Um casal tinha um gato ao qual devotava muito cuidado. Um dia tiveram de viajar e deixaram o bichano aos cuidados de uma empregada. Passados alguns dias, a funcionária ligou para o casal e avisou: o gato morreu. A mulher entrou em choque. O marido explicou que a empregada deveria ter “preparado o terreno” antes de contar a triste verdade. Podia dizer que o gato subiu no telhado, depois que ele perdeu o equilíbrio, caiu. Ao fim, contaria o que ocorreu. Ela aprendeu. Tempos mais tarde, o casal voltou a viajar. Em meio ao passeio, o homem ligou para a empregada e perguntou se estava tudo bem na casa. “Aqui está tudo bem”, disse ela. “Mas a sua mãe subiu no telhado...”

Pois é essa a impressão que se tem sobre o tal ajuste. Não que isso seja uma surpresa para todo mundo. Não é surpresa nem para a agência (ou para os grandes investidores internacionais que usam as suas informações), nem para nós, por aqui. O impasse formado no Congresso com a rebelião de Eduardo Cunha contra Dilma é um obstáculo real às intenções do governo nessa área. E, convenhamos, o governo nem precisava de inimigos nessa área, porque ele próprio já fez muito para bagunçar as contas públicas.

A perspectiva negativa significa que o grau de investimento que o Brasil tanto comemorou em 2006 pode perder-se a qualquer momento – afinal, o mercado já foi avisado de onde está o gato. Na nossa economia do dia a dia, isso pouco muda. A inflação não vai aumentar nem diminuir por isso. Os empregos, que estão mais difíceis, vão seguir na mesma toada.

Nem mesmo para os investimentos deve mudar muita coisa. No jargão dos economistas, diz-se que “o mercado sobe no boato, realiza no fato”. Ou seja, prepara suas estratégias antecipando o cenário e, quando este ocorre, apenas colhe-se os frutos de escolhas feitas antes. Assim, o grande investidor (bancos, fundos internacionais e grandes fundos locais também) já imaginava que isso aconteceria e assumiu posições defensivas em suas carteiras. Parte da alta do dólar dos últimos dias, por exemplo, pode ser creditada a algumas razões – a reunião do Fed, a crise na bolsa de Hong Kong –, mas o fator principal é interno: com os desentendimentos entre PMDB e governo, fica subentendido que o ajuste fiscal ficará prejudicado.

Quando (ou se) o grau de investimento for embora, teremos uma instabilidade adicional de alguns dias. Nada muito drástico. Mas será uma pena, de qualquer forma.

Presidente

Sobre Eduardo Cunha: o leitor sabia que o deputado tem como site oficial o endereço www.eduardocunhapresidente.com.br? O domínio foi registrado em novembro do ano passado, três meses antes da eleição para a mesa diretora da Câmara Federal. Depois de registrado, é válido enquanto o proprietário o mantiver.

Como diz o meu amigo blogueiro Zé Beto, pode ser tudo, pode ser nada...

Até breve

O colunista entra em férias. Voltamos a conversar em setembro, que tal? O email continua o mesmo: financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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