Mesmo tendo registrado uma reação até vigorosa nos últimos tempos, o índice Ibovespa continua no vermelho em 2011. E não é pouco: as perdas desde o início do ano estão em 15,9%. Ações importantes tiveram desvalorizações significativas nesse período: Petrobras PN caiu 16,7%, Vale PNA perdeu 7,4%, OGX ON encolheu impressionantes 30,9% isso só para ficar nas três empresas de maior peso no índice. Quem olha só para esses números tende a sofrer um bocado. Afinal, é seu o capital que está minguando.
Quer reduzir o estresse? Em vez de tirar o dinheiro do mercado e, com isso, realizar o prejuízo (para quem não está habituado, essa expressão é um jargão que se refere à operação de venda de papéis desvalorizados, em que o investidor transforma perdas potenciais em prejuízos reais) , olhe para outros números.
Não se trata de bancar a Pollyana fazendo o jogo do contente, aquele em que a personagem vivia buscando formas de sentir-se feliz em qualquer situação. A ideia aqui é conhecer o mercado e suas motivações, uma atitude que exige conhecimento da maneira como as coisas funcionam.
O investidor brasileiro acostumou-se a olhar para a variação no preço das ações e buscar nela os seus ganhos. Isso faz algum sentido, porque em anos passados a variação dos ativos chegou a patamares altíssimos. Em 2009, por exemplo, a alta acumulada foi de 82%. Com uma valorização dessa magnitude, quem ia se importar com qualquer outra coisa? No máximo, a comparação seria com os juros pagos pela renda fixa, que também têm sido altos, mas demonstram uma tendência à queda no longo prazo.
Raciocinemos: as empresas se esforçam no seu dia a dia para gerar lucros e, com eles, remunerar seus acionistas. Por lei as companhias abertas são obrigadas a distribuir pelo menos 25% do seu lucro líquido aos acionistas, por meio de dividendos (pagos anualmente) ou juros sobre capital próprio. Muitas distribuem bem mais do que os tais 25%. Veja o caso da Companhia Providência, empresa paranaense que fabrica não tecidos: no mês passado, a empresa anunciou que pagaria dividendos sobre 100% dos lucros do primeiro semestre.
O professor Pedro Piccoli, que leciona finanças na Universidade Federal do Paraná, tem aconselhado recentemente o investimento em empresas boas pagadoras de dividendos. Ele lista três razões para isso.
A primeira é que, normalmente, as empresas que pagam altos dividendos são empresas de setores menos voláteis às mudanças econômicas, e, portanto, não são tão sensíveis ao cenário de instabilidade. "Sua incerteza é menor, permitindo distribuir uma porcentagem maior de seus lucros, em vez de retê-los para provisões futuras", diz.
Em segundo lugar, os dividendos permitem ganhos mesmo com as ações em queda. "Essas empresas proporcionam uma boa opção de renda quase fixa", observa. Isso porque, uma vez que os dividendos são isentos de Imposto de Renda, bons dividendos podem resultar em ganhos maiores do que os dos títulos do governo. A dimensão dos dividendos é calculada por meio do indicador conhecido como dividend yeld (obtido dividindo-se o dividendo pelo preço da ação e transformando-o em porcentual). Veja na tabela ao lado uma lista de empresas com dividend yield alto.
Por fim, a oportunidade: em função do cenário global de aversão ao risco, essas empresas também se desvalorizaram. Assim como muitas outras empresas brasileiras, estão baratas. "Como o lucro da empresa não é determinado pela sua cotação, o momento atual é uma boa oportunidade para comprar barato empresas com robustez de dividendos", assinala.
Bom feriado
Aproveite o feriado da Proclamação para descansar e colocar em dia os seus controles financeiros. Se tiver alguma dúvida ou quiser contar uma experiência, escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.