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Financês

Pagar ou guardar?

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O leitor Henrique tem um consórcio, de uma administradora ligada a um grande banco comercial. Ele já pagou 40 das 115 parcelas. Como já foi contemplado, ele acha que pode ser vantagem quitar as parcelas que ainda vão vencer. A poupança que ele tem equivale a mais ou menos a metade do que tem pela frente.

Quando você tem um financiamento tradicional, sempre é vantagem antecipar as parcelas. Ao fazer isso, você abate os juros que teria de pagar, o que resulta em um desembolso menor.

O caso do consórcio, entretanto, é diferente. Para começar, só é possível liquidar o saldo antes da hora se o consorciado tiver sido contemplado e tiver usado o crédito. Além disso, consórcios não têm taxas de juros. A remuneração da administradora vem de uma taxa, a taxa de administração do grupo. E esse valor não pode ser abatido das parcelas a vencer. De cara, isso já deixa a ideia um pouco menos atraente.

O seguro, que está embutido em todas as parcelas, pode ser abatido. Pelo que Henrique explica, a administradora cobra R$ 67,60 de seguro em cada parcela. Nas 75 parcelas que faltam para quitar o consórcio, esse valor soma R$ 5.070. Convenhamos que não é um valor desprezível...

"A única vantagem que ele teria é a de evitar os reajustes", observa o consultor financeiro Friedbert Kroeger, da Financonsult, a quem eu levei os dados do leitor. A parcela de Henrique é corrigida anualmente, pelo INPC. "Provavelmente ele vai conseguir aplicações financeiras que rendam mais do que isso", diz Kroeger. No Tesouro Direto, por exemplo, há títulos que poderiam dar a ele algo como 9% ou 9,5% líquido, sem grandes riscos – caso das LFTs, pré-fixadas, com rendimento atrelado à taxa Selic. Nesse caso, seria vantajoso continuar pagando as parcelas e obtendo ganhos com a aplicação.

Só que essa é uma questão bem pessoal. "Quitando as parcelas, ele será bastante conservador", diz Kroeger.

Dessa forma, a renda não fica comprometida e é mais fácil voltar a poupar. "Não é uma decisão muito fácil, depende de como ele se sente como investidor", diz.

No fim das contas, a decisão é sempre sua. Afinal, o dinheiro é seu...

Quitação antecipada

Um aviso para quem tem financiamento (de carro ou imóvel, por exemplo) e está pensando em fazer quitação antecipada: faça questão de mencionar a redução proporcional dos juros, para deixar bem claro à instituição financeira qual é a sua intenção. Faça as contas antes, em casa, e compare com as que a instituição apresentar, para tirar eventuais dúvidas. Não esqueça que as tarifas por liquidação antecipada estão proibidas pelo Banco Central desde 10 de dezembro de 2007. O banco só pode cobrar alguma coisa se o financiamento for anterior a essa data, e a tarifa estiver prevista no contrato.

O Banco Central tem uma lista de perguntas e respostas sobre liquidação antecipada, que tem informações úteis para quem está pensando no assunto. Está em http://www.bcb.gov.br/LIQUIDACAOANTECIPADAFAQ.

Mudando de assunto...

O Banco Central divulgou, na semana passada, a pesquisa "O brasileiro e sua relação com o dinheiro". É a terceira edição do levantamento, feito antes em 2004 e em 2007 (a data de referência da pesquisa atual é janeiro/fevereiro de 2010). O material tem algumas informações interessantes. Uma delas é o fato que 55% dos brasileiros economicamente ativos recebem seus salários em espécie. Apesar do aumento na quantidade de pessoas com conta bancária no país, o número é exatamente o mesmo de 2007. Por que será?

Há vantagens para o pagamento bancário. Alguns empregados podem não gostar muito disso – podem alegar que deixa a coisa toda mais burocrática, por exemplo –, mas eles também poderiam se beneficiar com o acesso ao crédito, por exemplo. Quem tem relacionamento com uma instituição financeira tem condições de obter taxas melhores. Pelo lado dos empresários, os controles ficam menos informais e mais confiáveis. Não há o que temer – não ser, é claro, que sua empresa tenha um pé na ilegalidade.

Além disso, o grande ponto positivo dos bancos – e uma das razões pelas quais eles surgiram, meio milênio atrás – é a segurança. Quantas vezes você, leitor, ouviu falar de um empresário que foi assaltado logo depois de sair de uma agência, onde havia sacado uma bolada para pagar seus empregados? E quantos casos já não ouvimos de trabalhadores cujo salário mensal foi furtado quando ele voltava para casa, de ônibus? Nada disso teria ocorrido se o salário fosse depositado, numa transferência feita a distância, sem nenhum bandido olhando.

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