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Financês

Para não cair em arapucas

Tenho um amigo que diz que "há vítimas que mereciam ser presas". Ele se refere às pessoas que caem em golpes como aquele do bilhete premiado, em que alguém conta a história mais esfarrapada para vender a outra pessoa um bilhete de loteria que estaria valendo uma nota. Esse meu amigo observa que ninguém acreditaria nessa história se não tivesse dentro de si uma enorme volúpia de passar alguém para trás.

Você pode imaginar que isso não acontece num mercado sofisticado e regulamentado como o das finanças. Mas ocorreu em escala planetária com o escândalo de Bernard Madoff, ex-presidente da bolsa Nasdaq. E de vez em quando ocorre no Brasil. O caso mais recente diz respeito a uma empresa chamada Agente BR. Esta é uma empresa paulista que vendeu clubes de investimentos, prometendo rentabilidades de 20% ou 25% ao mês. Muitas pessoas estranharam que a aplicação não era feita por uma conta de investimento, mas por meio de um depósito na conta da própria corretora. Pelo menos 140 pessoas foram lesadas quando a Agente BR deixou de atender aos pedidos de saque. Em janeiro, o Banco Centrou pôs a empresa sob regime de liquidação extrajudicial. Isso quer dizer que o próprio BC vai administrar a empresa, vendendo o seu patrimônio para pagar os credores, e depois fechá-la. Na internet, o site da corretora foi substituído por um fac-símile do ato do Banco Central que decretou a intervenção.

Não há investimento que pague 25% ao mês, ainda mais hoje em dia – estamos em crise, lembra? Quem busca uma rentabilidade dessas precisa correr grandes riscos, e pode muito bem perder bastante. E está sujeito a cair em arapucas.

Não quer cair na arapuca? Há algumas providências que, se tomadas, reduzem o risco. A tal Agente BR, por exemplo, estava autorizada a operar como corretora de câmbio, e não como corretora de valores. Ou seja, podia comprar e vender dólares, nunca agenciar operações com ações. É fácil verificar isso nos sites do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários.

Mas o mais importante é não tentar ser mais malandro do que os malandros. Ganância não é uma boa estratégia de investimentos.

Sobre o IPI dos carros

Está no ar, nas emissoras de rádio, a propaganda de uma concessionária de automóveis em que diversos personagens especulam sobre o IPI dos carros de passeio. "Será que vão prorrogar?", perguntam eles. Em teoria, o IPI reduzido vigoraria até o fim deste mês – mais uma semana, portanto. O sentido da peça publicitária, então, é incentivar o consumidor a antecipar sua decisão de compra, para garantir um preço mais vantajoso.

Se você está pensando nisso, não perca o sono. Tudo indica que o benefício do IPI reduzido deve ser mantido. A recuperação das vendas verificada nas últimas semanas foi baseada na redução do imposto e os pronunciamentos de executivos do setor têm deixado isso claro. Embora falem para a mídia e o público em geral, essas declarações têm como alvo principal o governo, e sobram nas entrelinhas insinuações de que a consequência do restabelecimento dos porcentuais antigos seria uma nova paradeira nas fábricas, que resultaria em demissões – tudo o que o governo quer evitar. Assim, as projeções das montadoras estão baseadas num cenário de IPI reduzido.

Chato é o silêncio do governo sobre o assunto. Ficando na moita, ele deixa o consumidor inseguro, facilitando a penetração de mensagens oportunistas como a da propaganda descrita acima. Conduz o indivíduo a uma compra por impulso, que pode cair mal no seu orçamento doméstico. O governo não deve estar a serviço do marketing de empresas, mas do cidadão. Melhor que diga logo o que pretende fazer.

Frankenstein

Espera-se para esta semana a divulgação da fórmula que o governo propõe para remunerar as cadernetas de poupança. Saídas como separar um "pedaço" da taxa Selic para corrigir as cadernetas lembram mais os métodos do doutor Frankenstein do que a boa prática econômica.

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