Quer saber por que a nossa crise econômica não acaba? Para isso é preciso entender um pouco do passado dela. Aviso: a razão é mezzo econômica, mezzo política. E fica mais política a cada dia que passa.
Nossa crise foi engendrada porque o país adiou decisões no passado. Deixou, por exemplo, que a situação da Previdência se deteriorasse por décadas. Agora que o governo se mete a tentar resolvê-la, adia a aposentadoria de larga parte dos brasileiros e aumenta draconianamente suas contribuições. Ou seja, pela sua própria imprevidência, aumenta os custos de previdência da maioria dos brasileiros. Obviamente, isso tem gerado uma reação política – a cauda longa da nossa crise, que, quando abanada, derruba ainda mais a capacidade de reação da economia.
Foi assim em outras situações. Para combater a estagnação econômica, concederam-se benefícios fiscais a rodo. Depois que você dá um presente a alguém, fica difícil tirá-lo, donde que tais isenções passaram a ferir a arrecadação do governo, que cavou um enorme buraco nas suas próprias contas. Isso foi feito, inclusive, usando artifícios contábeis que mais tarde foram julgados ilegais e acabaram por levar ao impeachment de Dilma Rousseff.
Instalaram-se, assim, crises gêmeas, na economia e na política. A instabilidade política atrasa a retomada econômica. Por isso, sou obrigado a discordar do raciocínio que levou à manchete de ontem desta Gazeta: “Poderes se unem contra crise e STF mantém Renan no cargo”.
Na verdade, atitudes como essa é que intensificam a crise. Quanto mais previsíveis e monótonas forem as reações institucionais, melhores são as chances de recuperação. Quando as regras mudam ao sabor das ondas, entra um elemento de incerteza: em que outras condições elas vão mudar? No limite, o que passa pela cabeça de um investidor internacional é: quem garante que as regras não vão mudar na hora do vencimento do título do governo que eu comprei?
Por que a crise não acaba? Ela não acaba porque o governo Temer está perfurado por denúncias de corrupção, a ponto de ter perdido para o escândalo seis ministros em sete meses; porque o STF acredita que Cunha réu não pode ser presidente da Câmara, mas Renan réu está liberado para comandar o Senado; porque desobedecer ordem judicial só dá prisão se você for um cidadão comum, se for senador as regras mudam para se adaptar a você. A crise não acaba porque o presidente que propôs que os brasileiros se aposentem com 65 anos de idade e 49 de contribuição, ganhando no máximo R$ 5,1 mil se aposentou aos 55 anos e ganha R$ 30 mil líquidos de aposentadoria.
Assim fica difícil, não?
El Supremo
Se a Presidência da República acha que não pode votar assuntos importantes sem Renan Calheiros e o STF concorda, talvez seja hora de mudar os nomes. Pelo visto, Supremo mesmo é Renan...
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