Se passar pelos bairros mais centrais de Curitiba, o leitor pode dar uma olhada nos anúncios de plantão de venda de imóveis. Há muitos. Alguns são de empreendimentos que foram entregues já há um ano ou até dois, mas ainda há unidades à venda.

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Não deveria haver. Na verdade, é bem provável que todos os apartamentos ou salas comerciais de um dado empreendimento tenham sido compradas. Mas eles voltaram para a planilha de vendas porque foram devolvidos. Segundo um levantamento da agência de classificação de risco Fitch, de cada quatro unidades vendidas por um grupo de nove grandes empresas do setor imobiliário, uma foi devolvida. É a crise – e ela pode se aprofundar ainda mais.

No coração do problema está o financiamento imobiliário, cada vez mais escasso e caro. Na opinião do professor Lucas Dezordi, do departamento de Economia da Universidade Positivo, ele pode ser o início de uma “seca” mais ampla no crédito. “O crédito imobiliário é a modalidade mais sensível quando há problemas na economia, porque ele trabalha obrigatoriamente com prazos longos e juros baixos”, explica.

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Isso ocorre porque os bancos não encontram vantagem em emprestar dinheiro para a casa própria. Veja só: a taxa cobrada pelos bancos era, em novembro de 2015 (última data disponível no sistema do Banco Central), de 15,12% ao ano; já um título do Tesouro Nacional com vencimento daqui a 19 anos paga a inflação mais 7,46% (pelo fechamento de 2015, isso significaria algo como 18% ao ano). Assim, o banco ganha mais emprestando dinheiro ao governo, com risco próximo de zero, que emprestando ao cidadão que quer comprar uma casa.

E por que o governo precisa pagar tanto por esses títulos? Porque gasta mais do que arrecada. No ano passado, teve gente dizendo que não havia problema em o governo federal apresentar um orçamento deficitário. Pois é, tem problema. E uma parte da conta está sendo paga por quem depende de crédito para comprar sua residência.

Semana que vem tem reunião do Copom, a primeira do ano. E é muito, muito provável que os juros subam de novo. Mais um ponto contra o crédito imobiliário.

Mais três anos

O leitor deve estar se perguntando: e o preço do imóvel, não vai cair? “Não tem como não cair”, sentencia Dezordi. O palpite dele é que no segundo semestre deste ano e nos primeiros seis meses de 2017, eles caiam pelo menos uns 10%. Mas a crise da construção civil e do setor imobiliário deve durar de três a quatro anos.

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