País de plástico

Algumas informações sobre o mercado brasileiro de cartões de crédito.

Dado e Valor

Cartões em circulação 134,2 milhões*

Faturamento R$ 22,7 bilhões

Total de transações 226 milhões

Valor médio da fatura R$ 169,00

Valor médio de cada compra R$ 101,00

Juros médios 237,93% ao ano

Inadimplência 27,55%**

* – Estimativa de outubro de 2009, da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abec). Todos os outros dados são de setembro.

** – Porcentual de dívidas com atraso superior a 90 dias.

Fontes: Banco Central do Brasil, Abecs, Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

CARREGANDO :)

Eustáquio escreveu para pedir ajuda – conta que cortou talão de cheques e cartão de crédito, e mesmo assim continua endividado. Fabrício escreveu dizendo que considera os juros do cartão abusivos, e quer saber como fazer para reduzi-los. Antonio Carlos afirma que não consegue entender como algumas lojas fazem promoções em que o preço à vista é igual ao valor parcelado no cartão em 12 vezes ("Que conta esse pessoal faz?", pergunta). Maiko revela que está "tentando se livrar da dependência do cartão de crédito", que consome quase todo o seu salário. Esses são alguns trechos de cartas que recebi na semana passada, comentando o problema – crônico, ao que parece – dos cartões de crédito. Não vou poder responder a todos agora, e me comprometo a retornar a cada um desses assuntos nas próximas semanas. Mas acredito que essas histórias reforçam a sensação de que há um descompasso entre a fome dos bancos pela emissão de novos plásticos e a capacidade da sociedade brasileira de absorvê-los e fazer bom uso deles. Um apetite que resulta em inadimplência e que realimenta a fornalha da dívida: os bancos elevam os juros para compensar as perdas, os juros altos levam mais gente à inadimplência. Uma situação com enorme potencial para gerar tragédias pessoais.

Fiz algumas buscas pela internet para ver o que as pessoas estão falando sobre os cartões, e encontrei no Twitter algumas frases reveladoras (ou assustadoras, dependendo do ponto de vista). Veja abaixo algumas delas:

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"Sou viciado em compras on-line. Mal chega uma encomenda e já quero comprar outra coisa, vou tentar esquecer o número do cartão de crédito."

"Vou aproveitar o sono tranquilo, enquanto a conta do cartão de crédito não chega..."

"Por que as pessoas se surpreendem com a fatura do cartão de crédito? Quando a minha chega eu fico arrependido, não surpreso."

Percebe o problema? Consu­mo inconsequente, consumidor inadimplente. A regra não tem exceção. É claro que tem gente que se endividou por outras razões, levado por gastos que fogem à sua vontade. Mas não é o caso da maioria.

Não me entendam mal: eu sou um usuário satisfeito e entusiasmado de cartões de crédito. Acredito que eles podem prestar bons serviços ao usuário, agregando em uma única data pagamentos dispersos pelo mês. Se, entretanto, não estão cumprindo sua função, melhor ficar sem eles.

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Responsabilidade

Uma das modas recentes nos meios corporativos é a da responsabilidade social (ou responsabilidade sócio-ambiental, como se fala mais hoje em dia). Vou dar meu pitaco: faz parte da responsabilidade social dos bancos cuidar para que seus clientes usem de modo responsável os produtos financeiros que eles vendem. Um bom ponto de partida seria mais prudência na hora de oferecer cartões de crédito.

Se os bancos não se esforçarem para ajudar a resolver o problema, talvez seja o caso de usar o mesmo tipo de pressão já colocado sobre a indústria de bebidas. Esta é obrigada a colocar em sua publicidade mensagens potencialmente negativas para as suas vendas, como "Se beber não dirija". Dá até para imaginar: "Cartão de crédito: aprecie com moderação".

Injeção

Hoje o Departamento Intersin­dical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) divulgará seu levantamento sobre os recursos que o décimo-terceiro salário vai injetar na economia paranaense.

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Esse relatório é quase uma tradição, e costuma receber destaque no noticiário econômico. Pena que a realidade seja menos risonha. Não estou me baseando em dados ou pesquisas, mas em uma percepção – um tanto pessimista, é verdade, mas o que me autoriza são justamente declarações como essas acima – de que boa parte desse dinheiro irá direto para financeiras e bancos. Sem irrigar o varejo e a indústria, geradores de empregos bem mais poderosos do que o setor financeiro, ou (no mínimo) cobrando um pedágio bem alto, sob a forma de juros.

Preços divergentes

Um olho bem atento pode ajudar a economizar, e posso contar uma experiência pessoal para demonstrar isso. Fui ao supermercado no sábado passado e fiz uma compra de 70 itens – um carrinho daqueles pequenos, quase cheio. Na hora de passar no caixa, minha esposa percebeu três produtos cujo preço estava diferente nas etiquetas da gôndola. Ela tem uma memória fantástica para números, é uma das muitíssimas coisas que admiro nela.

Os funcionários do supermercado (o Pão de Açúcar da Re­­pública Argentina) foram verificar, e confirmaram a divergência. Deram o desconto. Somando tudo, os preços errados somavam R$ 8,45. Um dos produtos, um pacote de 100 gramas de queijo ralado, constava na prateleira a R$ 2,98, mas passou no caixa a R$ 6,49 – uma diferença de 117%.

Três coisas a comentar a respeito desse episódio:

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- a loja citada dificilmente será a única ou a pior da cidade no quesito dos preços trocados (embora eu já tenha constatado que ela erre bastante). Seja qual for o mercado em que estiver fazendo suas compras, fique de olho nos preços;

- quando vão confirmar o preço na prateleira, os funcionários costumam tirar as etiquetas e trazê-las para que o caixa passe o preço correto. Depois disso, as etiquetas são descartadas, o que faz com que outros clientes que adquirem o produto terão mesmo de pagar o preço maior;

- não ponha a culpa no código de barras. Se as lojas fossem obrigadas a estampar etiquetas individuais em cada embalagem, como antigamente, haveria um custo adicional para estabelecer essa estrutura – que os varejistas certamente repassariam para o cliente. Além disso, as filas no caixa seriam maiores, porque o processo de digitar os preços seria mais demorado do que simplesmente passá-los pelo scanner. Ruim com ele, pior sem ele.

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