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franco iacomini

Promissória do Tesouro

O leitor Augusto escreveu com alguma perplexidade. Ele é investidor do Tesouro Direto (Tesouro Prefixado com Juros Semestrais, vencimento em 2023) e, dia desses, deu uma olhada na rentabilidade dos seus papéis. Descobriu que ela estava negativa em 3,95%. Sua pergunta: sendo um título pré-fixado, a rentabilidade pode ser negativa?

Pode, sim, Augusto. E essa, aliás, é uma dúvida frequente das pessoas em relação aos títulos do Tesouro. Para entender por que é preciso compreender como funciona esse mercado.

Ao investir no Tesouro Direto, você está, de fato, emprestando dinheiro ao governo federal. O título que você compra é como se fosse uma nota promissória. O Tesouro Nacional emite esse papel e diz que pagará uma taxa de juros pré-definida e que vai quitar essa dívida na data estipulada. Diz também como vai pagar os juros: com depósitos semestrais na sua conta (esse é o caso do leitor) ou tudo de uma vez, na data do vencimento.

Então essa é a obrigação da União: pagar os valores convencionados na data combinada. É isso que você vai receber se carregar os títulos até o fim.

Mas... e se eu quiser sair da aplicação antes? Aí entra o mercado secundário. Todo investidor pode vender seus títulos a qualquer momento no mercado secundário, dentro do ambiente do Tesouro Direto. Em uma comparação grosseira, é como vender um carro: você pode até ter uma expectativa de preço, mas vai receber o que os compradores estiverem dispostos a pagar. O comprador ficará com a “promissória”, e o governo terá com ele aquela mesma obrigação: pagar os valores convencionados na data combinada – afinal, ele será o novo dono do mesmo papel.

É desse valor de mercado dos papéis que sai o número que assustou o Augusto. Se ele vender agora esse título, terá rentabilidade negativa – ou seja, prejuízo. Se continuar com o papel até o fim, vai receber do governo os juros pré-fixados que estavam combinados.

A expectativa do investidor que não compreende o mercado secundário é contar com uma remuneração “pro rata” – ou seja, proporcional ao tempo em que o dinheiro ficou aplicado. Mas não é assim. O Tesouro Direto é um substituto para a caderneta de poupança pela segurança que oferece, pelo investimento mínimo pequeno e pelo baixo custo de aplicação.

Mas é um tantinho mais complicado justamente por esse mecanismo, que é chamado de “marcação a mercado” em financês. Para receber o que estava tratado, só ficando até o final. Nesse caso, é possível montar uma carteira, dividindo os seus recursos em títulos variados, com diversos vencimentos.

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