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Financês

Prudência

Inflação sob controle |
Inflação sob controle (Foto: )

Há algo de assustador nas promoções que montadoras e concessionárias andaram divulgando nos últimos dias. Juro zero, documentação e IPVA 2009 grátis, câmbio congelado. Elas fazem de tudo para que você compre – e financie – seu carro novo. Tem gente até dando dinheiro para os compradores. O que resulta disso é um compromisso de longo prazo entre o consumidor e a empresa vendedora, isso em um cenário de incertezas na economia. Por isso, sugiro que o leitor não tome decisões rápido demais.

Desenha-se uma questão difícil de resolver no incentivo que o governo está dando ao crédito, e em especial ao mercado de automóveis. Ele não livra o cidadão dos efeitos da crise – basta ver a situação de algumas das montadoras, cujos empregados saíram em férias coletivas temendo ser demitidos no início de 2009 –, mas os estimula ao endividamento. Caso haja um recrudescimento, o resultado para as empresas será ruim para vendedores e compradores. Vale lembrar que a inadimplência nos contratos de financiamento de automóveis já está em seu nível mais alto desde 2003, conforme relatou o repórter Fernando Jasper em matéria publicada aqui na Gazeta do Povo em 26 de novembro. Dados mais recentes, incluindo números de novembro, o Banco Central divulga na terça-feira que vem.

Aqui em Curitiba, muitos de nós conhecemos profissionais que foram dispensados por grandes empresas nas últimas semanas. É gente que trabalhava havia anos em multinacionais e que, até três meses atrás, estava pensando no que fazer com o bônus de fim de ano.

Crise é isso: reversão de expectativas. Contra ela, prudência sempre cai bem.

Inflação

As equipes de análise de bancos, consultorias e universidades que alimentam a pesquisa Focus, do Banco Central, estão prevendo taxas de inflação menores para o ano que vem. A explicação é simples: com a economia crescendo mais lentamente, a demanda cresce menos, o que reduz a margem das empresas para elevação de preços.

Rendição?

Continua no mercado o clima de suspense em relação à Positivo Informática. A empresa concedeu a um banco de investimentos, o UBS, um mandato para "coordenar e organizar" propostas de aquisição formuladas por outras companhias. O assunto começou como boato, cresceu, e parece mais concreto a cada comunicado emitido pela companhia, embora mantenha-se a linguagem cifrada em geral usada pela área de relações com investidores de todas as empresas. "Considerando a imprevisibilidade de quaisquer operações dessa natureza, o sigilo em suas fases iniciais deve ser mantido para conter quaisquer especulações que possam gerar expectativas inconsistentes aos investidores", diz documento divulgado pela companhia na semana passada. O que isso quer dizer? Como diz meu velho amigo Zé Beto, pode ser tudo, pode ser nada.

Reportagens publicadas na semana passada em jornais como O Estado de S. Paulo, Valor Econômico e esta Gazeta apontam como principal candidato à compra da área de informática do Grupo Positivo a chinesa Lenovo. Trata-se de um gigante de atuação global, que em 2004 comprou a divisão de computadores pessoais da IBM e tem um valor de mercado de US$ 19,1 bilhões na bolsa de Hong Kong. A Positivo Informática, na bolsa, vale R$ 878,8 milhões pela cotação de ontem. Os chineses são, de longe, muito maiores do que a empresa paranaense. Esse é um belo argumento para quem acha que a empresa deva ser vendida – e os investidores parecem acreditar nisso, já que fizeram uma corrida aos papéis da Positivo na semana passada. Afinal, quem consegue concorrer com um gigante desses?

A Positivo, até agora, conseguiu. Ela já concorre com outros gigantes, como a Dell e a HP, que estão atrás dela no ranking brasileiro de computadores. Se a empresa brasileira não fosse importante e estratégica no mercado global, os acionistas da Lenovo não teriam ficado tão entusiasmados com a idéia. Os papéis da companhia chinesa subiram 26,5% na quarta-feira, 10, devido a especulações a respeito.

Líder disparada num dos mercados de informática que mais crescem no mundo, a Positivo poderia estar fazendo aquisições, se tivesse mais musculatura financeira. No mercado interno, domina como nenhuma outra empresa do segmento os canais de distribuição, e tem uma rede de assistência técnica bem desenvolvida. Foi capaz de fazer uma travessia difícil: de vendedor de PCs baratinhos para o governo a marca de qualidade.

As empresas brasileiras precisam de mais exemplos de ambição – como têm na Ambev e na fusão Itaú-Unibanco, por exemplo – do que de rendição. De que lado a Positivo vai ficar?

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