Há algumas semanas estava conversando com um grupo de pessoas e comentei das dificuldades financeiras por que passei anos atrás, no início do meu casamento. Um dos interlocutores comentou, com um jeito meio jocoso: "Sobre isso você não fala na coluna, né?"
Realmente, nunca tinha falado sobre isso neste espaço. Mas não há nenhuma razão para isso na verdade, essa experiência faz com que eu me sinta muito mais à vontade para escrever sobre dificuldades financeiras. Assim, aí vai a história e, com ela, algumas lições que aprendi nesse período.
Poucos meses depois do casamento, tive um convite para deixar Curitiba e ir trabalhar em São Paulo. Em menos de um mês estávamos lá. O entusiasmo de trabalhar na sede de um grande veículo de comunicação deve ter me feito esquecer de negociar melhor os vencimentos, e o resultado foi um aumento de salário que mostrou-se insuficiente para compensar o aumento de despesas. Minha esposa passou a ganhar lá os mesmos vencimentos que aqui.
As despesas cresciam com aluguel e compras. Os deslocamentos eram maiores, por isso gastávamos mais em combustível. Com os amigos paulistas, frequentávamos restaurantes mais caros do que estávamos acostumados. Tudo ocorria de uma forma bem natural, de forma que demoramos a perceber o buraco nas contas. E achamos que o aluguel era o problema.
O primeiro grande investimento da família, um ano mais tarde, foi esse: a compra de um apartamento. Para nos livrarmos do aluguel entramos numa dívida contando com dinheiro que ainda não tínhamos: décimo-terceiro do ano seguinte, adicional de férias, limite do cheque especial. A armadilha estava pronta.
Eu demorei a admitir o problema. Comecei pagando o valor mínimo de um dos dois cartões de crédito que tinha na época "é só por esse mês, até que as coisas se normalizem", pensei. Dois meses depois, já não conseguia pagar nenhum dos cartões. Equilibrar as contas era urgente (afinal, o primeiro bebê já estava a caminho). Essa operação durou meses e passou por um corte severo nos gastos.
Quando eu quebrei, aprendi que o preço da liberdade financeira é a eterna vigilância (parafraseando o slogan que o Exército brasileiro usava durante os anos da ditadura). Lá em casa, adotamos um orçamento descrito numa planilha eletrônica, e toda semana checamos se as coisas estão indo como deveriam. Eu mesmo não gosto muito de fazer isso, mas cada vez que me lembro dos tempos ruins me sinto mais convencido de que é necessário. Está tudo lá, das contas da tevê a cabo aos presentes de aniversário, do dízimo à mesada das crianças. Mais recentemente, fizemos um curso de finanças que ensinou mais alguns "macetes". Por exemplo, o de manter uma poupança para situações de emergência se tivéssemos uma reserva naquela época passaríamos menos sufoco.
Para mim, foi assim. Mas gostaria de conhecer as experiências dos leitores. Alguém quer contar a sua história? Pode mandar para o e-mail financaspessoais@gazetadopovo.com.br.
Ah, a poupança...
O leitor Claudio enviou e-mail contando que tem R$ 50 mil na poupança e perguntando de opções para mudar de investimento. Levei a questão ao consultor financeiro Friedbert Kroeger, da Financonsult. "Se ele está pensando em tirar o dinheiro da poupança por causa das alterações na tributação, talvez nem seja necessário", diz Kroeger. Relembrando: há alguns meses, o governo anunciou que pretendia passa a cobrar Imposto de Renda das aplicações em caderneta de poupança com saldo superior a R$ 50 mil. Mas até agora não deu nenhum passo efetivo nesse sentido, tendo se limitado a monitorar a saída de recursos dos fundos de investimento. Como não houve corrida à poupança, as coisas foram se mantendo como estão.
Se a ideia for mudar mesmo, há opções interessantes no Tesouro Direto, o canal de negociação de títulos do governo federal via internet. Kroeger cita especificamente a NTN-B, um título pós-fixado, que paga aos investidores juros próximos a 6% ao ano mais a variação do IPCA no período e deposita os juros semestralmente na conta-investimento do usuário. "Elas vão render um pouco mais do que a poupança, com praticamente o mesmo risco", comenta.
Fora disso, é preciso correr mais riscos. Claudio pergunta sobre imóveis uma opção difícil. Primeiro porque vai ser difícil encontrar, ao menos em Curitiba, imóveis nessa faixa de preço: o mais comum é que eles sejam mais caros. "Pode ser que ele encontre uma salinha comercial nesse valor, mas o rendimento vai depender de muitos fatores, como a localização, a demora para alugar, a pontualidade do inquilino", observa Kroeger.
Em se tratando de CDBs, os chamados bancos de primeira linha (os maiores do país) pagam juros que só compensam o investimento caso o cliente mantenha a aplicação por pelo menos dois anos antes disso, o Imposto de Renda consome os ganhos e o resultado é inferior ao da poupança. E pôr um porcentual do dinheiro em ações para um capital de R$ 50 mil, o ideal seria 10% ou menos vai exigir disposição em correr riscos. "O cliente que já guarda todo dinheiro em poupança deve ser mais conservador, dificilmente se sentiria confortável com as oscilações da bolsa", diz Kroeger.
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