Variação das ações de maior peso| Foto:

As ações PN da Petrobras caíram ontem 7,5%. As ordinárias da Vale desabaram: -12,1%. As da Positivo Informática se desvalorizaram em 6,3%. Esses números não têm relação direta com a realidade dessas empresas – o óleo continua (e continuará) saindo dos poços da Petrobras, a Vale não reduziu sua produção de minério e a venda de computadores se mantém firme e forte no mercado nacional, com a empresa paranaense na liderança. Mesmo assim, o índice Ibovespa caiu a ponto de o pregão ser interrompido pelo mecanismo do circuit break.

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Em tempos (mais ou menos) recentes, os negócios da Bolsa de São Paulo só pararam na véspera da desvalorização cambial de 1999 e na loucura financeira que se seguiu aos atentados de 11 de setembro de 2001. O que aconteceu ontem, no entanto, foi diferente dos eventos de 1999 e em 2001. Naquelas ocasiões, era evidente que havia fatos que feriam diretamente as perspectivas de geração de caixa e de lucros de muitas empresas.

Agora, essa relação entre os eventos que provocam a crise e as finanças das empresas brasileiras não é tão clara. Por isso, neste momento, parece que a crise está só no mundo virtual. Mas que o leitor não se iluda.

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É provável que economia real e o mundo virtual das bolsas acabem por sincronizar-se logo, à força de um esfriamento geral na economia do planeta. O mecanismo é conhecido: o consumidor dos Estados Unidos, tragado pela crise, passa a gastar menos, e quem exporta para lá (ou seja, o mundo inteiro) ganha menos dinheiro. Aí a crise chega de verdade. Assim, os eventos de ontem se assemelham a um prelúdio dramático.

O objetivo desta coluna, no entanto, não é assustar ninguém. O Brasil saiu mais forte das crises que enfrentou, e não há porque esperar algo diferente desta vez.

Quebrados

Algumas palavras sobre o socorro aos bancos americanos. O que está acontecendo por lá é justamente aquilo que se temia que ocorresse por aqui na segunda metade da década passada – uma quebradeira geral. No Brasil, o governo criou o Proer, cuja definição é mais ou menos a mesma que se pode dar ao pacotão que o Congresso americano rejeitou ontem: uma ajuda para impedir que a imperícia dos administradores privados leve um país inteiro à bancarrota. Em ambos os casos, o princípio é moralmente condenável (porque, no fim das contas, impede a falência de uma empresa que realmente merecia isso), mas parece necessário.

Poupança ou Tesouro Direto?

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Recebi na semana passada um e-mail de uma leitora que está num impasse. Ela ouviu falar muito bem do investimento em títulos do Tesouro Nacional, mas quer saber se eles são realmente seguros. "Tenho algum dinheiro na poupança – sempre ela, já que minha família, de sangue alemão, é completamente avessa a riscos", contou. Um caso de conservadorismo genético, portanto.

A seção de indicadores aqui da Gazeta, na página 22, dá uma dica da resposta. Tem uma coluna intitulada "Poupança". Se você der uma olhadinha, vai ver que a correção da poupança nos últimos meses deu, em média, 7,51%. Bem pertinho tem outra coluna, "Índices de inflação", que pode servir de referência. A poupança perde para muitos daqueles índices. Se você olhar só para um deles, o IPCA – aquele que serve para o governo controlar as chamadas "metas de inflação" – verá que ele foi maior do que a correção da poupança em maio e junho deste ano.

No Tesouro Direto, que é a ferramenta criada pelo Tesouro Nacional para vender os tais títulos, há opções de papéis que pagam integralmente o IPCA do período do investimento. E há também outros que garantem o rendimento da taxa Selic. Atualmente, o alvo para a Selic é de 13,75%.

A leitora tem mais dúvidas: "E se o governo não honrar com suas dívidas? E se houver uma crise financeira qualquer?"

O Brasil chegou a parar de pagar sua dívida externa duas vezes, mas a dívida interna (da qual fazem parte os títulos de Tesouro) só foi tocada uma vez, na época em que o ex-presidente Fernando Collor colocou o país naquela loucura do "enxugamento de liquidez". A mesma ocasião, por sinal, em que o dinheiro das cadernetas de poupança sofreu seqüestro. Se o passado significa alguma coisa, então dá para dizer que os títulos do Tesouro são tão seguros quanto a poupança.

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Está em crise?

Então escreva para a coluna e tire suas dúvidas.

iacomini@gazetadopovo.com.br