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Os bancos estão mesmo no bico do corvo?
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Engraçado como começaram a aparecer informações sobre inadimplência bancária nos últimos dias. Há instituições que coletam dados e elaboram estatísticas sobre o assunto dia a dia. São baseadas nos cadastros de maus pagadores empresas como a Serasa ou bancos de dados como os do SPC. Há ainda os registros do Banco Central sobre pagamentos em atraso (que, por sinal, são a parte mais confiável desse pacote todo), e esses registram com mais precisão o comportamento do consumidor em relação aos bancos.
É importante analisar essas informações porque elas chegam justamente no momento em que o governo e os bancos públicos iniciam uma investida para baixar os juros. Não é possível reduzir as taxas se as instituições não tiverem alguma gordura para queimar. E, como o leitor perceberá na sequência deste texto, o esforço delas é fazer com que você acredite que elas estão na pindaíba o que é, obviamente, uma grande bobagem.
Ganharam destaque, por exemplo, a informação de que os grandes bancos brasileiros estão aumentando as suas provisões para devedores duvidosos. Provisão é um valor que uma empresa reserva no seu balanço para se precaver de um provável prejuízo em alguma operação. No caso dos bancos, eles contam os valores que foram emprestados, mas que dificilmente voltarão ao caixa da instituição, e já antecipam as perdas. Assim, não haverá uma queda brusca nas receitas. O Itaú Unibanco, por exemplo, avisou que a despesa com devedores duvidosos deve chegar a R$ 18,5 bilhões de janeiro a setembro deste ano. O valor é bem próximo àquele registrado ao longo do ano passado inteiro, que foi de R$ 19,9 bilhões.
Olhando para esse dado, ele pode significar três coisas: 1) o brasileiro está ficando mais caloteiro; 2) os bancos perderam o juízo e estão emprestando dinheiro para quem, reconhecidamente, não tem condições de pagar; ou 3) o valor total dos empréstimos aumentou bastante e esse número, sozinho, não significa nada.
A primeira alternativa é falsa. Não há por que imaginar que alguém vá meter-se em financiamentos com a intenção de dar um chapéu no banco. Afinal, há consequências para isso: o devedor fica impedido de fazer novos crediários, vai ter despesas adicionais e a desagradável tarefa de atender ligações de empresas de cobrança. Fazer isso conscientemente é coisa para pessoas doentes ou criminosos. Felizmente, essas duas categorias são minoria na população nacional.
Quanto aos dois itens seguintes, eles incluem graus variáveis de verdade. É claro que os bancos não enlouqueceram, mas eles andaram abrindo linhas de crédito para pessoas sem juízo gente que fez três ou quatro financiamentos simultâneos, por exemplo. Além disso, há financeiras por aí que sequer consultam os cadastros de maus pagadores. Quem faz isso sabe que terá um alto grau de inadimplência. Mas há uma compensação: os juros são altos o suficiente para compensar as perdas.
E não há segredo nenhum que o crédito cresceu muuuito no Brasil dos últimos anos. E isso pode ser percebido nos dois gráficos acima. Um mostra o aumento dos números absolutos da inadimplência do sistema financeiro, de R$ 30,6 bilhões em janeiro de 2008 para R$ 77,4 bilhões, em março passado (o valor considera apenas as dívidas com mais de 90 dias de atraso). O outro mostra o que isso significa em relação ao total de empréstimos feitos. Em janeiro de 2008, 3,2% dos valores emprestados estavam em atraso superior a 90 dias. Em março de 2012 eram 3,7%. Olhando assim, não parece tão assustador, não?
Prato do dia
Agora estão dizendo que os bancos não poderiam baixar os juros porque têm inadimplência alta. Convenhamos: se as taxas fossem mais baixas, provavelmente um número menor de pessoas teria entrado no superendividamento.
Comportam-se como o dono de um restaurante que serve aos clientes feijoada temperada com veneno, e ainda reclama quando eles não voltam no dia seguinte.
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