Volta e meia alguém escreve para o financaspessoais@gazetadopovo.com.br contando uma má experiência com o banco em que tem conta. Já li muita reclamação em relação a tarifas e filas. O atendimento aos clientes interessados em previdência privada também levou bastante chumbo. Mas carta do leitor Homero, enviada na semana passada, era um pouco mais do que uma reclamação. Ele parecia desiludido.
Funcionário aposentado do Banco do Brasil, ele confiou na "dica" de um gerente da instituição, que lhe indicou um fundo de investimento. "Só depois fui saber que rendia pouco, e fiquei sabendo que aquela determinada aplicação era uma meta da agência", conta. "Saí logrado."
E se isso parece pouco, a mãe do leitor foi vítima de uma estratégia criminosa. Homero conta que ela foi procurada por uma funcionária desse mesmo banco, que disse que o governo iria tributar a poupança. "Minha mãe ficou pensando que perderia dinheiro e a funcionária, mais uma vez atrás de metas, indicou título de capitalização." Aquela senhora aplicou R$ 15 mil nos tais títulos e, quase dois anos depois, ela ainda não tem condições de sacar nem mesmo o capital investido.
Esse caso da mãe de Homero é terrível porque envolve uma meia verdade sim, o governo realmente pretende tributar a poupança, mas somente se a taxa de juros Selic cair abaixo de 8% ao ano, e mesmo nesse caso, apenas em aplicações de saldo superior a R$ 50 mil; isso se Brasília não mudar de ideia e uma mentira (a de que um título de capitalização pode ser um investimento melhor do que a caderneta de poupança). Conforme resume o leitor: "Muita gente cai na conversa de gerentes e funcionários, que nada mais querem do que cumprir a meta que foi determinada pelas superintendências respectivas, e acabam ludibriando os incautos".
Esse é um negócio que só é bom para o banco e para a tal funcionária do banco. O que eu não sei é como ela consegue dormir à noite.
Talvez esse seja um caso extremo. Prefiro acreditar que a maioria dos profissionais ainda preza pela ética e não sai por aí mentindo desta forma. Em todo caso, é bom ter em mente que quem deve gerenciar o seu dinheiro é você. Muitas pessoas são extremamente criteriosas antes de comprar qualquer mercadoria. Pesquisa condições de pagamento, preços e especificações. Mas, na hora de investir, não segue a mesma lógica: entrega os recursos para alguém cuidar sem levantar os custos e os tributos de cada modalidade de aplicação. Ao fazer isso, pode estar jogando fora parte do benefício obtido com a economia.
Faça-se justiça: também já ouvi de gerentes de banco histórias de clientes que chegam sem nenhuma informação e não se esforçam para entender as explicações, alegando que tudo é muito complicado. Há alguns que insistem em aplicar em investimentos que lhe são contraindicados.
Meu conselho: faça a lição de casa. Se você chegar à agência bem informado, dificilmente será passado para trás.
Capitalização
Para quem ficou em dúvidas sobre os títulos de capitalização, transcrevo trecho de texto publicado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão do governo federal encarregado de regulamentar e fiscalizar o setor de seguros, previdência complementar e capitalização: "O título de capitalização é um produto comercializado somente pelas sociedades de capitalização, por meio de planos que são previamente aprovados pela Susep. Seu capital de resgate, nos títulos que preveem atualização pela TR, será sempre inferior ao capital constituído por aplicações idênticas na caderneta de poupança, já que, dos pagamentos efetuados num título, desconta-se uma parte para custear as despesas administrativas das sociedades de capitalização e, quando há sorteios, uma parcela para custear as premiações".
Não espere de um papel desse tipo, portanto, o desempenho de um investimento. Se quiser concorrer a sorteios, vá lá. Mas jogar na loteria provavelmente será mais barato.
Para conhecer um pouco mais sobre as regras aplicáveis aos títulos de capitalização, consulte http://www.susep.gov.br/menuatendimento/index_capitalizacao.asp.
E agora?
Amanhã é feriado. Aproveite o dia. E, se tiver algum comentário, dica ou dúvida sobre educação financeira, escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.