Um dos maiores obstáculos para a conquista e manutenção de uma vida financeira saudável é a impaciência. Ao contrário do que muita gente pode imaginar, não é preciso ser mão-de-vaca para ajuntar um bom patrimônio pelo menos não na maioria dos casos , mas certamente é necessário ter uma boa dose de paciência.
São duas as formas pelas quais a impaciência esmaga as chances de muita gente guardar dinheiro. Uma delas está na dificuldade em lidar com prazos longos ou processos demorados. Vou dar um exemplo de casa: quando meu filho mais velho começou a estudar trompete, a demora no início do aprendizado o deixou chateado. Passaram-se várias semanas até que ele conseguisse tirar uma mísera nota, e boa parte do tempo era dedicado a fazer exercícios de respiração. O principal deles: colocar uma folha de papel na parede e tentar impedir que ela caísse, usando apenas a força de seu sopro. Agora imagine uma criança de oito anos fazendo isso. Era difícil manter a atenção dele por mais do que dois ou três minutos.
Passados pouco mais de dois anos, ele aprendeu algumas músicas e integra uma orquestra juvenil, com várias crianças em níveis semelhantes de aprendizado. Claro que está longe de ser um Louis Armstrong quem sabe no futuro? Mas, se tivesse desistido naquele momento em que seu esforço parecia infrutífero, nunca teria chegado a esse ponto. Na esmagadora maioria das vezes, as coisas que valem a pena exigem um esforço que, a certa altura, parece não dar resultado algum. É aí que as pessoas desistem. E é aí que a persistência mostra a sua importância.
Com os investimentos funciona da mesma forma. Esse foi um dos assuntos surgidos no bate-papo de que participei, na semana passada, com o escritor Gustavo Cerbasi, na Fnac do ParkShopping Barigui. Para ele, a chave para a persistência está em dois fatores: matemática e motivação. A matemática costuma atuar a favor do investidor de longo prazo, por mais que ele ignore essa "mãozinha". O acúmulo de juros sobre juros faz o dinheiro crescer, mas esse processo não se dá numa linha reta. Se colocado num gráfico, o crescimento do capital é exponencial. Começa devagar, mas tende a ir às alturas. Veja o gráfico ao lado, que mostra a evolução de um investimento de R$ 2 mil ao mês, levando em conta uma remuneração conservadora (0,7% ao mês, pouco mais do que a poupança).
A motivação depende do poupador. Por isso é importante sempre ter um objetivo pessoal por trás do seu investimento. "Quem está guardando dinheiro para fazer uma bela viagem com a família quando completar 25 anos de casamento vai pensar duas vezes antes de avançar nessa poupança por alguma outra razão", comentou Cerbasi. Quem poupa sem uma âncora emocional mais forte pode ceder à tentação de sacar um tanto para comprar uma tevê nova, por exemplo.
Marshmellows e carros
A segunda forma de a impaciência se manifestar é a urgência de possuir alguma coisa, que julgamos inadiável (mas que raramente o é). Outro exemplo infantil para esse assunto: é bem conhecido um vídeo, disponível no YouTube, em que algumas crianças são deixadas numa sala, a sós, com um marshmellow. Antes de sair, a pessoa que organiza o experimento avisa que ficará fora por alguns minutos, e que a criança pode fazer o que quiser. Mas, se esperar sem comer o marshmellow, ganhará um segundo doce. A lógica é simples: se comer agora, ganha um; se esperar, ganha dois. Vários pimpolhos comem sem se importar com o que virá depois.
Crianças são impacientes, é verdade. Mas o que dizer dos adultos? Troque os marshmellows por um carro. Pegando dados que saíram em propagandas aqui na Gazeta, no domingo, você pode comprar hoje um Peugeot 207, dando R$ 15.395 de entrada e pagando 60 prestações de R$ 355. Caso aceite adiar o prazer de pisar fundo num carro novo (um marshmellow de adulto), você pode pôr na poupança o valor da entrada e depositar mensalmente os mesmos R$ 355 da parcela. Em trinta meses metade do tempo do financiamento você terá R$ 30 mil na conta. Dá até para colocar alguns opcionais no carro, que à vista custa R$ 27.990.
Aí você pode perguntar: fico sem carro até lá? Só se você quiser. Você pode, por exemplo, usar os R$ 15 mil da entrada para comprar um usado, rodar com ele e poupar o valor da parcela do financiamento. Depois de três anos você vende o carro velho e compra o novo à vista.
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