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Financês

Sobre cotas, impostos e moletons

Nesta época do ano, viajantes de um país que tem uma vistosa cachoeira na fronteira costumam fazer rápidas viagens a uma nação vizinha para fazer compras, aproveitando-se dos preços mais baixos vigentes por lá. Muitos têm dificuldades com isso, porque as autoridades estão sempre de olho no fluxo de pessoas e mercadorias. Há um limite bastante restrito para o valor das compras feitas no exterior.

Você sabe onde isso acontece?

Se o leitor está pensando na fronteira de Foz do Iguaçu, está apenas parcialmente correto. Sim, isso acontece por lá, mas eu estava me referindo à fronteira entre Canadá e Estados Unidos. Lá, um dos principais pontos de passagem de mercadorias passa pelas cidades gêmeas de Niagara Falls (uma de cada lado da fronteira), famosas pelas quedas d’água e pelos malucos que desafiam suas águas desde o século 19 a bordo de barris. A razão principal é a proximidade de Toronto, a cidade mais populosa do país.

O governo canadense tem cotas que podem chegar a 800 dólares canadenses (cerca de US$ 690) para compras nos EUA. Mas a cota é variável: quem vai e volta no mesmo dia não tem direito a trazer nenhum produto isento de impostos; quem fica entre 24 e 48 horas pode trazer até 200 dólares canadenses (pouco mais de US$ 170). Sacoleiros, portanto, têm vida bem difícil por lá.

Entre os brasileiros, há uma tendência a achar que as restrições às compras fora do país são uma idiossincrasia nacional. Como se vê, não são. As viagens de compras ao exterior tampouco são insólitas no cenário internacional. Além das "shopping trips" dos canadenses, há outros exemplos. Recentemente, por exemplo, a Dinamarca criou sobretaxas para compras de café, chá, tabaco e bebidas (alcoólicas e refrigerantes), porque seus cidadãos vinham comprando tais mercadorias em grande quantidade na Alemanha.

Entretanto, o comportamento do brasileiro nas compras desperta a curiosidade dos estrangeiros. Uma coisa é comprar no país vizinho, rodando algumas dezenas de quilômetros. Outra é passar dez horas no avião para comprar tênis. Ou – pior? – encher de roupas a caixa em que havia, originalmente, um carrinho de bebê, para, assim, passar com mais facilidade pela aduana. Aos olhos dos gringos, somos todos loucos.

Há uma composição de razões que leva a esse comportamento. Objetivamente, compra-se fora porque compensa, já que os preços são muito mais altos aqui. Quem viaja, mesmo que seja para o mais puro turismo, sabe que fazer compras em lugares como os Estados Unidos ou o Panamá, em lugar de adquirir os mesmos produtos no Brasil, resulta em economia. E essa economia torna a viagem mais barata. Quem dispensaria essa vantagem?

A diferença de preços ocorre em razão dos impostos, da alta margem de lucro dos comerciantes locais e do encanto pela mercadoria importada – este último item explica porque os moletons da Gap (que, até pouco tempo atrás, não podiam ser comprados no país porque a marca não tinha loja por aqui) são tão populares no Brasil.

O fato é que esse surrealismo econômico precisa acabar. Enquanto as camisas (autênticas!) fabricadas em Santa Catarina pela Dudalina custarem mais barato no Paraguai do que no Brasil, estaremos condenados a exportar consumidores e importar mercadorias.

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