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De vez em quando aparece alguém que sugere uma coluna sobre quanto custa ter um filho. Normal­mente eu faço algum comentário rápido e mudo de assunto – uma técnica que uso nas situações em que eu discordo do interlocutor, mas não acho conveniente entrar em grandes discussões.

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Meu problema com essa conversa é que discordo totalmente do seu ponto de partida. Crianças são parte de um projeto de vida, são a continuidade da família, o futuro da nação – escolha o clichê que quiser, só não as reduza a uma despesa. Despesa é um carro zero, que perde 20% do valor quando você tira da concessionária, gasta combustível, é sujeito a impostos. Pior, pode até ser roubado ou batido. Além do mais, não me lembro de nenhum modelo que dê risadas quando você faz cócegas no seu capô. Mesmo assim, tem gente que, para ter um carro na garagem, assume dívidas por três, quatro, cinco anos até. E acha que ter filho é caro. Vai entender...

Mas não compreenda mal. Sei também que é muito natural que as pessoas se preocupem com as mudanças que virão no orçamento familiar depois do nascimento de uma criança. Pais e mães querem ser os melhores provedores para seus filhos. "Quero que eles tenham o que eu não tive" é uma expressão que a gente ouve muito, e que espelha essa intenção.

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Foi essa a preocupação que enxerguei por trás do e-mail da leitora Márcia. Aos 32 anos, ela conta que "somente agora está batendo a vontade de ser mãe", e pede que escreva "sobre planejamento e economia para quem está planejando ter filhos". Para ela, uma boa notícia: não é tão caro assim.

"Filho pequeno gasta pouco", observa o consultor Raphael Cordeiro, especialista em finanças pessoais e pai de uma menina. "O maior gasto é com educação, e esse só vem mais tarde." E não faz muito sentido começar antes da gestação um planejamento financeiro com vistas à faculdade da criança, por maiores que sejam as preocupações dos pais com ensino de qualidade. Isso porque muita coisa ainda vai acontecer na sua própria vida financeira.

De início, mesmo, poucas despesas vão surgir. Cordeiro recomenda que a futura mamãe verifique logo se o seu plano de saúde inclui obstetrícia. Se não tiver, será necessário pagar as contas da maternidade, que podem ser um pouco altas. E convém checar isso antes de engravidar, porque as operadoras costumam exigir carência de dez meses para a opção de obstetrícia. As despesas do dia a dia são pouco volumosas. Entre leite e fraldas, o gasto não deve passar de R$ 200 por mês. E a melhor opção para alimentar o bebê continuará sendo o leite materno, que é de graça.

Outro gasto que muitos superestimam é com o enxoval e a reforma do quarto do bebê. "É fácil gastar muito nessa parte", admite Cordeiro. Mas a família e os amigos sempre ajudam. Um berço do sobrinho, a cadeirinha do carro emprestada ou comprada barato de um amigo cujo filho cresceu... Tudo isso facilita a vida dos pais e dá aos outros a satisfação de participar de um momento de grande alegria para a família. Além disso, há decoração e acessórios para todos os bolsos – felizmente, o mundo não é feito só de Fischer-Price e Chicco. Basta procurar.

Outros itens podem ser obtidos fazendo uma adaptação no orçamento doméstico, sem grandes traumas. E pode ter certeza de que uma criança irá acrescentar muito à sua vida. Provavelmente vai subtrair algumas horas de sono, e o pior é que você vai até gostar.

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Criança segura

Uma recomendação de Cordeiro é que os pais pensem em seguro de vida quando têm crianças pequenas. "Um jovem de 18 anos tem condições de buscar uma atividade remunerada se lhe faltar o sustento dos pais, mas um bebê não", observa.

Tic-tac, tic-tac...

Uma última observação a respeito da tendência de os casais se preocuparem com a estabilidade financeira e a carreira antes de terem filhos: o relógio biológico continua correndo. Segundo dados das Estatísticas do Registro Civil, do IBGE, o porcentual de partos de mulheres com mais de 40 anos tem crescido nos últimos anos. No Paraná, esse índice cresceu de 1,86% para 2,2% do total, no período entre 2003 e 2008 (os dados costumam sair em dezembro, sempre sobre o ano anterior; a estatística de 2009 sai no fim deste ano). No início do período, o porcentual paranaense era inferior à média nacional. No fim, já estava acima (no Brasil, a média é de 2,07%).

O problema disso é que, como toda mulher sabe, há riscos maiores na gravidez tardia. Uma outra tabela do IBGE demonstra isso: em 2008, 5,4% dos óbitos fetais em todo o país ocorreram em gestações nas quais a mulher tem mais de 40 anos. No Paraná, o número é ainda mais alto: 6,22%.

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Flechas

"Os filhos da juventude são flechas na mão de um guerreiro. Feliz o homem que enche sua aljava com elas", diz o Salmo 127. Ou seja: eles atingem os alvos que você não consegue alcançar.

Mande seus e-mails, como flechas, para financaspessoais@gazetadopovo.com.br. Inclua seu comentário, dúvida, crítica e o que mais quiser.