Dois papéis de nomes semelhantes Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito Agrícola (LCA) estão criando dúvidas na cabeça de investidores por aí, a ponto de, na semana passada, dois leitores os terem mencionado em mensagens enviadas para a coluna. O Hudson quer fazer um investimento de cinco anos e pergunta o que seria melhor, entre os títulos disponíveis no Tesouro Direto, LCI, LCA e VGBL. Já a Izabela conta que vai receber um valor elevado e especula que opções ela teria entre elas, as tais letras para que esses recursos lhe permitissem complementar os rendimentos para trabalhar com menos estresse.
Tanto as LCIs quanto as LCAs são títulos de renda fixa, emitidas por bancos. Nisso, são muito semelhantes aos conhecidíssimos CDBs. A diferença é técnica. No caso das LCIs e LCAs, os papéis têm como lastro financiamentos feitos pela própria instituição. É como se o banco pegasse os empréstimos feitos nas suas carteiras de crédito imobiliário e agrícola, colocasse esses contratos em pacotes menores e os vendesse no mercado. Os recursos obtidos vão servir para conceder novos financiamentos, nas mesmas áreas. No caso dos CDBs, os recursos levantados pelo banco podem ser usados para outras operações de crédito (financiamentos para pessoas jurídicas, empréstimos pessoais, financiamento de veículos etc). Do mesmo modo que os CDBs, o rendimento das letrinhas é determinado em porcentuais do CDI, uma taxa interbancária que, em termos práticos, se iguala à Selic.
Há, entretanto, duas diferenças importantes entre as letras e os CDBs. A primeira diz respeito ao prazo. As letras têm prazos de vencimento entre seis meses e dois anos as mais comuns são de 6 a 12 meses e restrições de liquidez. Normalmente, o investidor não pode sair antes do vencimento. "Eles até negociam isso, mas, nesse caso, vão pagar um rendimento menor", explica o consultor Raphael Cordeiro, especialista em investimentos e finanças pessoais. A outra diferença é tributária: assim como a caderneta de poupança, LCIs e LCAs contam com isenção de Imposto de Renda. Isso as torna uma opção bem interessante. Se o investidor conseguir uma taxa de 88% do CDI um valor praticado por instituições de primeira linha; bancos menores trabalham com valores acima disso , o ganho vai todo para o seu bolso, sem pedágio para o governo.
O problema é o investimento mínimo. A maioria dos bancos aceita aplicações de R$ 200 mil para cima. A Caixa Econômica Federal oferece LCIs a partir de R$ 50 mil. "Eu não recomendaria essa aplicação para ninguém com menos de R$ 200 mil ou R$ 300 mil de capital", diz Cordeiro. Nesse caso, apenas uma parcela dos recursos deveria ir para as letras. O restante iria para outras aplicações, escolhidas conforme o perfil do investidor, sem esquecer-se de manter parte em ativos de liquidez imediata.
Oráculo?
No seu e-mail, Izabela conta que quer usar os recursos que vai receber para aumentar os rendimentos e reduzir a carga de trabalho. Já ouviu diversas opiniões a respeito de como usá-los, desde uma injeção adicional no seu plano de previdência até a compra de imóveis no exterior, mas não está tranquila. "Vejo também a intenção de muita gente querer 'vender seu peixe', já que falei que terei dinheiro em caixa para investir", revela. Por isso escreveu para a coluna, e encerrou dizendo: "Espero ansiosa por uma resposta deste seu Oráculo Financeiro".
Má notícia, Izabela: não existe oráculo financeiro. A advertência vai também para outras pessoas em situação semelhante, que certamente serão assediadas por todo tipo de proposta. Para dar sugestões a respeito de como investir sua herança, é preciso conhecer melhor os seus objetivos com o que você trabalha, com que idade pretende se aposentar, que padrão de vida pretende manter, por exemplo , seu patrimônio, seus hábitos. Não dá para fazer isso numa coluna de jornal, nem numa conversa rápida.
Tem muito aproveitador por aí, alguns com uma conversa incrivelmente convincente. Em outros casos, é o banco que oferece negócios que não são apropriados para os seus objetivos. Para se proteger disso, o investidor deve se manter informado e desconfiar de qualquer proposta que sugira ganhos acima do normal. Se possível e se o valor investido compensar tal desembolso , procure um profissional independente para ajudá-lo. Para ajudar, no quadro ao lado estão algumas armadilhas que costumam "pegar" investidores ingênuos ou gananciosos demais.
Educação financeira
Esta coluna não pretende convencer o leitor a comprar coisa alguma, nem tem o mapa do tesouro para quem quer ficar rico fácil. Não vou indicar carteiras nem dizer se você deve ou não comprar determinada ação. Essa escolha deve ser só sua, e a idéia deste espaço é apresentar boas informações para que os leitores possam decidir sozinhos o que é melhor para eles próprios e para seu rico dinheirinho.
No mais, sejam bem vindos para enviar suas dúvidas e sugestões. Escrevam para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.