Invisto no Tesouro Direto ou na caderneta de poupança? Essa é uma questão que aparece com frequência e que, às vezes, pode ter respostas diferentes. Lá por fins de 2009 e começo de 2010, por exemplo, a velha poupança parecia imbatível, preocupando até o governo, que achava os ganhos altos demais. Hoje, os poupadores andam preocupados porque há algum risco de a remuneração das cadernetas ficar abaixo da inflação, que está numa trajetória de alta difícil de domar. Seus pontos fortes: é fácil (qualquer banco tem), não precisa de valor mínimo para investir, não tem taxa de administração, é isenta de imposto. Ponto fraco: o rendimento é limitado a 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial de Juros (TR), calculada pelo governo.
Já o Tesouro Direto é uma alternativa relativamente nova de investimento. Foi criado em 2002, e é uma ferramenta de venda direta de títulos do Tesouro Nacional aos investidores até então, esses papéis somente estavam disponíveis para bancos, corretoras e outros do gênero. Atualmente, oferece dois tipos de títulos pré-fixados (LTN e NTN-F) e dois tipos de papéis pós-fixados (NTN-B e LFT), com algumas variações. Por serem títulos do governo, são considerados papéis de baixíssimo risco e apropriados para investimentos de longo prazo. Os títulos podem ser "carregados" até seu vencimento ou negociados no mercado secundário, semanalmente, a preços de mercado. O investidor paga Imposto de Renda segundo uma tabela regressiva quem mantém o dinheiro aplicado por menos de seis meses paga a alíquota máxima, de 22,5% sobre o rendimento da aplicação; quem ficar mais de 720 dias (dois anos), paga o mínimo, que é de 15%. Pontos positivos: baixo risco, possibilidade de aplicar por longos períodos. Pontos negativos: é um pouco mais complicado do que a poupança e exige a contratação de um agente de custódia (banco ou corretora); como é sujeito às variações de preço no dia a dia, há a possibilidade o investidor que vender títulos antes do vencimento obter valores menores do que os esperados. O investimento mínimo equivale a 20% do valor de face de um título em valores de ontem, esse mínimo variava entre pouco mais de R$ 100 (caso da NTN-B Principal com vencimento em maio de 2035) e R$ 900 (LFTs).
No momento atual, não há muita dúvida de que o Tesouro Direto é mais vantajoso. As LFTs, corrigidas pela taxa Selic, são especialmente atraentes, em consequência do ciclo de alta que se desenha para os juros básicos. O que me leva à questão enviada pelo leitor Ivan. Ele e dois amigos criaram um grupo de investimentos, cujo objetivo é juntar forças para que eles tivessem acesso a opções de investimentos mais sofisticadas. Eles já conseguiram juntar R$ 74 mil, dos quais R$ 12 mil estão numa caderneta de poupança. Ele pensa em transferir esses recursos para o Tesouro Direto, e quer saber se é uma boa alternativa. É, sim.
Como fazer?
Além da dúvida sobre se o investimento vale a pena, Ivan tem outro problema em relação ao Tesouro. "Não sei a quem procurar para fazer esses investimentos", escreveu. O Tesouro Direto é, como o nome diz, uma forma de venda direta. Isso significa que você mesmo faz a aquisição dos títulos. Mas a coisa não é tão simples assim, porque você precisa ter um agente de custódia, e é por meio dele que o seu cadastro no Tesouro é feito. A boa notícia é que todos os bancos e corretoras podem fazer isso (com alguns, chamados agentes integrados, pode ser até mais fácil). A má notícia é que, claro, eles cobram por isso. Uma coisa boa no site do Tesouro (www.tesourodireto.gov.br) é que ele inclui um ranking dos agentes de custódia, que mostra quanto cobra cada instituição. Para encontrá-lo, dê uma olhada nos links que aparecem na coluna do lado direito da página de entrada do site. De um ano para cá, vários bancos reduziram os valores cobrados. A taxa mais alta é de 1% ao ano sobre o valor total dos títulos.
Consórcio
Ivan e seus amigos também têm uma parte do valor dedicado a um consórcio. O valor da carta é de R$ 65 mil, e eles já pagaram R$ 17 mil. Isso me dá uma chance de voltar a um assunto tratado na coluna da semana passada, que recebeu questionamentos de leitores como a Joane e a Cláudia. Falei que o consórcio não vale a pena como investimento. O valor aplicado não pode ser resgatado parcialmente e não se valoriza. Um imóvel pode se valorizar ao longo do tempo, mas uma carta de crédito continuará sempre tendo o mesmo valor de face. O consórcio faz sentido se usado para adquirir o imóvel para moradia.
Para um grupo como o de Ivan, a ideia faz ainda menos sentido. Digamos que seja necessário desfazer o grupo por uma razão qualquer. Quem fica com o consórcio?
Regras
Uma última palavra sobre o grupo de investimentos: ele precisa ter regras bem claras e afinidade de objetivos. É assim com os clubes de investimentos que muitas corretoras organizam ou administram. Há um contrato, dizendo o que pode ser feito, como devem ser feitos os aportes e o que fazer em caso de extinção. Se não estiver tudo bem claro para todo mundo, investir dessa forma pode acabar com uma bela amizade.
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