Imagino que alguns dos leitores começaram ontem, para valer, as suas jornadas laborais de 2014. Depois de alguns dias de férias coletivas ou de simples ócio programado, muitas pequenas empresas, clínicas, consultórios e escritórios de profissionais liberais voltaram ao trabalho na segunda segunda-feira do ano. Com o otimismo típico desta época do ano, talvez estejam fazendo altos planos e pensando: o que pode me atrapalhar neste ano?
Sem querer bancar o chato, mas com o objetivo de apontar um risco real para seus ganhos e investimentos, gostaria de apontar um problema: a inflação.
Antes de reagir com a sua opinião já formada a respeito do assunto, gostaria de convidá-lo a refletir um pouco. Sim, é verdade que o IPCA do ano passado ficou em 5,91%, dentro do intervalo da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para quem não está habituado à questão, a meta orienta as ações do Banco Central, que é legalmente obrigado a manter a taxa em 4,5% ao ano, com uma tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou menos de 2,5% a 6,5%, portanto.
A meta foi adotada em 1999 para evitar que se repetissem os erros do passado, em que estímulos ao consumo provocaram aumentos generalizados de preços e contribuíram para o descontrole. A ideia inicial era que ela fosse reduzida ao longo dos anos para conduzir a inflação brasileira a um patamar reconhecido internacionalmente como seguro, algo como 2%. Isso nunca ocorreu. Desde a implantação do sistema, nossa menor inflação foi a de 2006: 3,14%.
Também é verdade que essa meta é a mesma desde 2005, e que ela está entre as mais altas do planeta. O website Central Bank News lista 38 países que usam o sistema de metas de inflação. A média dessa turma fica em 3,5% ao ano. Maiores que a brasileira, somente as metas da Armênia (5,5%), Geórgia, Jamaica (de 6% a 8%), Nigéria (10%), Rússia (5%), Turquia (5%) e Uganda (7%). Mesmo países como Sérvia e Indonésia, que também têm meta de 4,5% para os seus índices de preços ao consumidor, têm menor tolerância para variação (1 e 1,5 ponto porcentual, respectivamente).
Também incomoda o fato de que o IPCA de dezembro foi o maior desde abril de 2003, meses após a posse de Lula na presidência da República. Como o leitor deve lembrar, a posse foi precedida de muita tensão econômica. O câmbio subiu loucamente e muitas empresas elevaram preços por temerem algum tipo de congelamento ou outra medida heterodoxa que não ocorreu.
Nos últimos anos, temos comemorado (com justiça) seguidos aumentos na renda do brasileiro. Estudo do Ipea divulgado em agosto do ano passado mostra que, entre 2001 e 2011, a renda per capita do brasileiro cresceu de R$ 591 para R$ 783, um aumento de 32,5%. No mesmo período, a inflação acumulada somou 85%. Ou seja: o aumento de preços está comendo boa parte do maior avanço econômico que o país teve na última década.
Sim, a renda fixa perde rentabilidade real com a inflação alta, a poupança vira uma piada de mau gosto e, com a bolsa andando para trás como anda ocorrendo nos últimos tempos, sobra pouca alternativa para quem quer investir. Mas essa corrosão do poder de compra é muito maior, potencialmente, do que a dificuldade que a inflação causa para os investimentos.
E aí?
Quer discutir o assunto? Mande comentários e dúvidas sobre finanças pessoais para fiacomini@gmail.com.
Dê sua opinião
O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Deixe sua opinião