Você imagina chegar à padaria lá pelas 17 horas (a hora universal do lanche da tarde) e descobrir que não tem pão francês? Pois isso já me aconteceu, mais de uma vez, em uma das mais celebradas casas do ramo de Curitiba. Talvez seus administradores tenham errado repetidamente em suas estimativas de demanda. Ou, quem sabe, queriam estimular a venda de pães especiais, mais caros...

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Também me aconteceu de ir a uma loja de uniformes escolares, credenciada e recomendada pela própria instituição, e descobrir que, na última semana de janeiro, vários tamanhos de calças e camisetas estão esgotados. "Ah, mas você pode encomendar", disse a vendedora, acrescentando que poderia entregar os itens uma semana depois do início das aulas. Aparentemente, não ocorreu à moça que o uso do uniforme completo poderia ser obrigatório.

Recentemente, uma sorveteria multinacional que abriu em Curitiba sua primeira filial brasileira foi forçada a fechar as portas temporariamente por falta de sorvete. Em pleno verão. A matéria prima importada que deveria durar seis meses acabou em menos de seis semanas, e o processo de importação foi demorado, alegou-se.

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Como consumidor, fiquei chocado com cada uma dessas histórias. Não encaro a falta de mercadoria em um estabelecimento como um indício de sucesso, mas como resultado de uma estratégia empresarial imprudente – isso considerando que há alguma estratégia. A escassez de um ou outro item é algo normal, mas a falta de produtos essenciais no momento de maior demanda é um desastre que favorece apenas os seus concorrentes.

Esses casos me vieram à lembrança com a ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Nesse documento, divulgado sempre oito dias depois das reuniões, o BC apresenta um inventário dos dados econômicos que levaram o comitê a tomar sua decisão sobre a taxa básica de juros – neste caso, a manter o alvo da Selic em 7,25% ao ano. Desta vez, o Copom observou que a recuperação econômica brasileira está menos intensa do que se esperava por "limitações no campo da oferta". Traduzindo: o Banco Central acredita que as empresas brasileiras estão sendo incapazes de entregar o que os seus clientes querem, na quantidade, preço e prazo que eles desejam. Pouco abaixo, no mesmo documento, o comitê observa que "o nível de utilização da capacidade instalada se encontra abaixo da tendência de longo prazo" – ou seja, as empresas estão produzindo menos que deveriam. Exatamente como as três que foram citadas no início deste texto.

E eu com isso?

Na grande esfera econômica, esses dados apontam para algo que já vinha sendo destacado por vários comentaristas: falta investimento privado. Se as empresas colocarem mais dinheiro na produção, encontrarão público para suas mercadorias. Esse descompasso entre oferta e demanda – esta última, convém não esquecer, vem crescendo nos últimos anos por causa do aumento da renda do brasileiro e pela abundância de crédito, fatores que têm estimulado o consumo das famílias – vem alimentando a inflação. A estimativa dos bancos e consultorias para o IPCA deste ano está em 5,67%. Este número tem subido nas últimas semanas.

Na esfera do dia a dia das pessoas e empresas, os mesmos dados sugerem que os empreendedores capazes de manter seu estabelecimento bem abastecido serão recompensados com a conquista de novos clientes. Se o leitor tem ou pretende ter um negócio próprio, convém lembrar-se disso.

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