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Financês

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Dizem que a gente se acostuma com qualquer coisa, é só uma questão de tempo. E a capacidade de acomodação do brasileiro é realmente surpreendente – é só lembrar quanto tempo nós conseguimos conviver com a hiperinflação, no passado. Hoje o nosso problema é com os juros – que, por sinal, devem começar de novo a subir amanhã, ugh. Estamos muito acima do resto da humanidade e vamos achando tudo normal. Efeito colateral: também estamos nos acostumando a viver enforcados pelas dívidas.Confesso que fiquei um pouco impressionado com o e-mail do Gustavo, leitor aqui da coluna. Ele perguntou qual seria um limite aceitável de endividamento para cartão de crédito e cheque especial. "Até quanto por cento do orçamento é considerado normal?", pergunta ele. Na minha opinião, é bem próximo de zero. Isso porque os juros são altos demais: 10,66% ao mês, em média, para o cartão, e 7,38% ao mês para o cheque especial. Esse preço alto faz com que eles devam ser encarados não como um auxílio corriqueiro para fechar as contas do mês, mas um recurso para situações especiais.

Creio que o máximo aceitável seria usar o limite por alguns poucos dias, numa eventualidade de a data de vencimento das contas descasar com a entrada das receitas. Mesmo isso dá para ajeitar: muitas empresas costumam dar várias opções de vencimento das contas, justamente para que o consumidor possa ajustar o seu fluxo de caixa.

Mas talvez eu seja chato demais. Consultei, então, o planejador financeiro Raphael Cordeiro, em busca de uma opinião mais especializada. "O ideal é zero. Cartão e cheque especial deveriam ser usados por pouco tempo, e no máximo uma vez por ano", diz. E mesmo uma pessoa com uma vida financeira saudável não deveria comprometer mais do que 30% ou 40% de sua renda com esse tipo de crédito.

Cordeiro dá um exemplo. "Imagine uma pessoa que ganhe R$ 3 mil por mês, e que consiga poupar todo mês R$ 300, que equivalem a 10% da sua renda", propõe. "Em determinado momento ela precisa de um empréstimo de mais R$ 3 mil e recorre ao rotativo do cartão. Como os juros são superiores a 10% ao mês, tudo o que ela consegue poupar é suficiente apenas para pagar os juros. Ela não consegue mais se livrar da dívida."

O exemplo é bom. A pessoa nessa situação só consegue quitar o débito com outras receitas – o 13º, por exemplo – e perde condições de acumular recursos. Sem contar a preocupação com uma conta que dobra a cada sete meses. Não é por outra razão que se costuma usar a analogia da bola de neve para falar desse tipo de dívida. A pessoa com uma vida financeira saudável, ensina Cordeiro, precisa ter uma reserva para ocasiões como essa. Aí, se resolver usar o limite do cartão ou do cheque especial, pode tirar recursos da reserva para quitar rapidamente esse débito. E voltar a dormir tranquilo.

E agora?

Para quem já está endividado, o melhor é encarar o problema de frente: cortar gastos, aumentar receitas – o que pode levar a vender bens, como o carro. O que não dá é para tentar resolver quando o débito já chega a dezenas de vezes a sua renda. Aí o gasto é maior, porque certamente vai exigir pagamento de honorários para um advogado.

Os impostos e a Copa

Olha o que diz o leitor Alisson sobre a isenção de impostos para a Fifa e as empresas ligadas à organização do Mundial de 2014 (abordada na nota "Também quero!", na semana passada): "Se a Copa do Mundo é tão rentável quanto andam falando Brasil afora, para que isenção de impostos? Será essa ‘rentabilidade’ vinda justamente dos cofres públicos?"

Pois é. Se a Copa é mesmo um evento tão rico como dizem, não vai precisar da grana da viúva.

Empregos

Dias atrás estava conversando com a gerente de um restaurante, que contou como anda difícil achar mão de obra. O pessoal começa entusiasmado, mas, depois de passar algumas semanas trabalhando à noite, começa a ficar de mau humor. Ela está com três vagas que não consegue fechar.

Nos supermercados acontece algo parecido. É certo que o consumidor tem preferido concentrar as suas compras nos sábados e domingos, mas as filas no caixa seriam bem menores se não houvesse um enorme índice de faltas, em especial aos domingos.

Juntem-se essas informações ao quadro traçado na matéria da repórter Cristina Rios, na Gazeta de ontem, sobre o agitadíssimo mercado de trabalho na construção civil. Conclusão: está sobrando emprego, mesmo nas faixas de profissionais pouco qualificados.

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