Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
George Vidor

Com reservas

Por mais pessimistas que sejam as projeções para a economia brasileira no ano que vem, a maioria dos analistas espera que o país chegue ao fim de 2009 com um volume de reservas cambiais em patamar igual ao de dezembro de 2008. A crise financeira internacional não chegaria então a comprometer as finanças externas do Brasil, o que por si só é um bom sinal.

Todas as graves crises da economia brasileira no passado estiveram de alguma forma relacionadas ao câmbio. Então é um alívio que haja tal expectativa nos cenários traçados para o ano que vem.

A manutenção do mesmo patamar de reservas seria possível ainda que se admita alguma queda no valor (não tão acentuado no caso do volume) das exportações, do saldo da balança comercial (as importações recuariam menos) e do fluxo de investimentos diretos de capitais estrangeiros. Em contrapartida, espera-se uma redução também no déficit das transações correntes, em decorrência de menos lucros sendo remetidos para o exterior e de gastos menores de brasileiros em viagens internacionais.

* * * * *

Os fundos mais especulativos já liquidaram completamente suas posições nos mercados futuros de produtos agrícolas. Isso faz com que as cotações da soja, por exemplo, estejam refletindo mais as transações comerciais propriamente ditas, sem o componente financeiro. Esses preços caíram em comparação ao pico do início de 2008, porém melhoraram em relação há dois anos.

No caso da carne bovina, produtores e frigoríficos até conseguiram subir os preços internamente porque nas exportações aumentaram seu faturamento em reais (embora possam ter perdido alguma coisa em dólares).

Nem tudo são flores para o agronegócio, pois pequenos calotes começam a surgir no comércio exterior. Os russos vêm atrasando pagamentos — o Itamaraty talvez tenha aproveitado a visita do presidente Medvedev ao Brasil para alertá-lo sobre isso —, o que já causa um certo mal-estar entre os exportadores do setor.

Em 2009, a produção agrícola brasileira provavelmente não crescerá, a julgar pela redução nas encomendadas de adubos e fertilizantes nesse período de início de plantio no Centro-Sul do país. Segundo projeções que circulam no mercado financeiro, o PIB agrícola brasileiro cairia entre 0,5% e 1% no ano que vem.

* * * * *

O empresário Ingo Plöger, que participou da equipe do ministro Luiz Fernando Furlan e era um dos representavam o Ministério da Indústria e Desenvolvimento nas negociações que envolviam o Mercosul, acha que a crise internacional não atingirá desta vez tão dramaticamente o continente. Os investimentos na integração de infra-estrutura e energia com os países vizinhos podem contribuir para que o Brasil mantenha aceso o intercâmbio comercial com a América do Sul, que tem sido um mercado importante para produtos manufaturados nacionais.

Ingo acha até possível que agora a Rodada Doha consiga avançar. Diante das perdas que o Tesouro americano e os governos europeus estão tendo que engolir por causa da crise financeira internacional, as concessões que precisam ser feitas por eles para viabilizar um acordo comercial nos moldes reivindicados pelo Brasil e outras nações emergentes viraram quase um pingo d’água dentro do oceano.

* * * * *

Ainda zonzo pelo choque que algumas de suas empresas sofreram com as operações de derivativos de câmbio, o setor de papel e celulose conclui no início do ano que vem a primeira fase de um importante investimento em Mato Grosso do Sul, na região de Três Lagoas, quase na divisa com São Paulo: International Paper e VCP (Votorantim) já estão testando as máquinas das suas novas instalações. A celulose para fabricação de papel virá de São Paulo, em um primeiro momento, mas rapidamente Mato Grosso do Sul se tornará também produtor do insumo, aproveitando as plantações de eucalipto da VCP.

O setor de papel e celulose poderá contribuir com um incremento de mais de 10% no PIB sul-matogrossense.

* * * * *

Nesta semana que precede a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano o IBGE vai divulgar a variação do IPCA em novembro, e é bem provável que a taxa acumulada de inflação em doze meses atinja o teto da meta (6,5%) estabelecida do governo. O IPCA de novembro vai refletir um pouco a influência da nova cotação do dólar sobre alguns preços internos (carne bovina, por exemplo), que já em dezembro poderá ser neutralizada em parte.

O IPCA de novembro pode dar a impressão que há uma curva ascendente na inflação, mas a tendência, na verdade, será de queda a partir deste mês, pois a expectativa geral é que os índices mensais, daqui para a frente, fiquem ligeiramente abaixo dos que foram registrados em igual período de 2007 e 2008.

Em dezembro do ano passado, o IPCA apresentou variação de 0,74%, o que não deverá se repetir este mês. No primeiro trimestre de 2009, se a média mensal for inferior a 0,5%, a inflação acumulada em 12 meses passa a recuar.

O Copom tinha a intenção de elevar as taxas básicas de juros ao longo do segundo semestre, para forçar a queda da inflação. Com o agravamento da crise, isso é desnecessário.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.