Como uma esfinge, a economia brasileira precisa ser decifrada. Como explicar, por exemplo, que no mês de outubro, quando os mercados financeiros pareciam caminhar para o caos, as vendas de alguns segmentos no Brasil tenham crescido mais de 20%? É claro que já houve desaceleração em vários outros setores, mas é pouco provável que o Natal seja trágico para o comércio.
O crédito encolheu e será difícil encontrar nas lojas promoções do tipo cinco prestações sem juros. Quem oferecia essa facilidade está recuando para um parcelamento de três vezes sem juros (ao menos juros não explícitos) ou cinco vezes com juros (salgados).
São condições que possibilitam ao comércio escoar a maior parte das mercadorias que geralmente atraem os consumidores nas compras de Natal. A falta de crédito mais longo (de 10 a 24 prestações) pode prejudicar a venda de eletrodomésticos e produtos eletrônicos, a não ser que os fabricantes se envolvam mais no repasse de financiamentos ao comércio, o que é bem provável. Para as grandes empresas não tem faltado crédito, embora os financiamentos tenham encarecido muito, inclusive nos bancos estatais.
O crédito imobiliário também não desapareceu, mas, em vez de taxas de juros de 11% a 14% ao ano, o que está disponível no mercado são empréstimos a 18% ao ano, mais TR. Nessas condições, as prestações dão um salto considerável.
Assustados com a explosão que a falta de pagamentos de financiamentos hipotecários subprime nos Estados Unidos acabou ocasionando em todo o setor financeiro mundial, as grandes financeiras aqui deram alguns passos atrás na concessão de créditos para a compra de automóveis. É que começaram a surgir críticas e advertências relacionando a forte expansão de financiamento à compra de veículos com uma espécie de subprime brasileiro, e, antes que isso pudesse ser visto de fato como um risco, as instituições financeiras resolveram recuar.
De fato, alguns carros chegam a custar o mesmo que um imóvel, mas a comparação entre os dois tipos de crédito parece ser um pouco exagerada.
Por mais que os prazos para financiamento de veículos tenham se ampliado, são ainda bem inferiores aos do crédito imobiliário, que geralmente variam de dez a 20 anos. A retomada de um carro financiado, por atraso de pagamento, é sempre mais rápida que a de um imóvel. Não há registro de perdas expressivas nas carteiras de crédito de automóveis nas financeiras.
As montadoras já estavam esperando uma acomodação no mercado, acreditando, no entanto, que as vendas se estabilizariam em um patamar bem elevado. Porém, sem que o crédito se normalize, uma fatia das vendas simplesmente desaparecerá.
Saneamento
O Ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida, diz que no ano que vem os investimentos em saneamento básico (redes de água e esgoto) vão aumentar muito, em função dos projetos já aprovados e dos recursos reservados no Orçamento da União e no FGTS. Na contramão dos setores que podem ser afetados negativamente pela crise financeira internacional, o ministro chega a temer que falte material de construção e até mão-de-obra para a execução desses projetos de saneamento básico dentro do cronograma. É a chamada política anticíclica, que ajuda a manter a economia ativa em momento de maré baixa por causa da contração do mercado mundial.
Petrobras
Possivelmente já atenta aos investimentos que terá de fazer para explorar o petróleo na camada do pré-sal, a Petrobras pretende usar o grande terreno que fora reservado para abrigar a PetroRio (primeira tentativa, fracassada, de se instalar um pólo petroquímico diversificado no Estado), em Itaguaí, e lá montar uma retroárea que sirva a embarcações e plataformas. Se a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) autorizar, poderá ser construído também um cais com 20 berços de atracação. É um tremendo projeto.
Também nessa região o governo do estado espera atrair investidores dispostos a construir o que deverá ser o maior estaleiro do país.
Créditos de carbono
A ASM constituiu o primeiro fundo multimercado, com captação inicial de R$ 70 milhões, para aplicar em títulos relacionados a projetos de crédito de carbono, devidamente certificados por órgãos internacionais, que contribuam para a redução do efeito estufa. O mercado de crédito de carbono é alimentado basicamente por empresas européias que têm metas, por imposição de lei, para diminuir a emissão de gases poluentes, principalmente CO. Além de esforço próprio para a redução, os emissores desses gases podem adquirir créditos de carbono em outros países. Para tal, os projetos devem se enquadrar no que se chama Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, que podem ser convertidos em títulos negociados no exterior. O fundo da ASM aplicará pelo menos 80% de seus recursos em títulos de projetos brasileiros.
Férias
Saio de férias por uma semana. Vou dar uma conferida no que anda acontecendo na Argentina.