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O maior desafio tecnológico enfrentado pela Petrobras foi ultrapassar a lâmina d’água de 300 metros de profundidade para abertura de poços de exploração e produção de óleo e gás, no fundo do mar. Os reservatórios descobertos na camada de pré-sal estão em águas ultraprofundas (lâminas d’água de mais de 2 mil metros), o que não assusta mais os pesquisadores da empresa.

Essa é, em resumo, a mensagem que o superintendente do Centro de Pesquisas da Petrobras, Carlos Thadeu Fraga, passou durante uma visita que fiz às atuais e futuras instalações do Cenpes, na Ilha do Fundão, junto à Cidade Universitária.

É claro que explorar petróleo e gás nessas profundidades, distantes 200, 300 quilômetros da costa, ainda tendo de atravessar uma barreira de sal acumulada há milhões de anos, não é nada trivial. Mas, na visão do pessoal do Cenpes, trata-se de uma extensão do trabalho que eles já vinham executando há pelo menos dez anos. Portanto, todos estão mais do que confiantes sobre a viabilidade de os grandes reservatórios do pré-sal na Bacia de Santos entrarem efetivamente em produção a partir do ano que vem.

A visita ao laboratório de testemunhos do Cenpes deixa arrepiados até os técnicos habituados a descobertas de campos gigantes de petróleo. "Este aqui é hoje o mais importante laboratório do Cenpes", comentou envaidecido o Ph.D. Rogério Schiffer. Lá estão, muito bem protegidas, as amostras de rochas e materiais retirados de poços exploratórios, que permitem fazer simulações sobre o que poderá ser produzido dentro em breve (na indústria do petróleo isso sempre significa vários anos pela frente). O óleo muitas vezes está em fissuras microscópicas, não perceptíveis a olho nu. A doutora Dolores, considerada uma das maiores especialistas no tipo de rocha encontrada no pré-sal, está exultante com a aproximação do primeiro teste de longa duração no campo de Tupi, pois dali serão retirados 240 metros de amostras, material precioso para o laboratório. Recebi das mãos dela um fragmento do tipo de rocha encontrada no pré-sal (extraído de uma área chamada Lagoa Salgada, no estado do Rio de Janeiro). A comitiva em volta ficou morrendo de inveja...

O pré-sal é a bola da vez, mas o Centro de Pesquisas da Petrobras tem 140 diferentes laboratórios em atividade, onde trabalham cerca de 2 mil pessoas (750 delas pós-graduadas). Por isso suas instalações estão sendo substancialmente ampliadas, numa obra cujo orçamento atinge R$ 1 bilhão. A Petrobras aproveitou para construir também, junto ao novo Cenpes, o seu centro de processamento de dados, reunindo num só lugar os computadores dispersos por vários prédios no Rio e em outras cidades.

O Cenpes saiu da casca, de certo modo, e a obra é o ponto alto desse processo. Não são poucas as universidades brasileiras que recebem hoje dotações específicas, chegando a construir novos laboratórios, para interagir com os pesquisadores que trabalham na Ilha do Fundão. E essa malha de pesquisas se desdobrou para outras instalações da Petrobras. Não por acaso o novo Cenpes, com projeto arquitetônico arrojado mas funcional, terá um centro de convenções capaz de reunir mil pessoas, o que certamente se transformará em uma atração a mais na Cidade Universitária.

Óleo pesado

Além do pré-sal merecem destaque nas pesquisas o que tem sido feito para aproveitamento do óleo pesado brasileiro e os horizontes abertos para os biocombustíveis. O futuro Comperj, em Itaboraí, transformará óleo pesado extraído do Campo de Marlim (Bacia de Campos) em insumos petroquímicos e diesel. A tecnologia teve que ser desenvolvida no Brasil – a China tinha algo próximo, mas não aplicável ao tipo de óleo pesado brasileiro – e os testes feitos com fornecedores de equipamentos da refinaria petroquímica deram resultados surpreendentes.

A Petrobras consegue extrair petróleo ultrapesado na Bacia de Campos (12 graus API, no Campo de Siri), cujas primeiras mostras eram manuseadas com pá, de tão viscoso.

Nos biocombustíveis, o Cenpes deu um passo importante ao possibilitar o maior aproveitamento de mamona (na proporção de 30%) na fabricação de biodiesel. A Petrobras Biocombustíveis recebeu o projeto, devidamente testado e comprovado, e já está em condições de montar uma unidade industrial com essa tecnologia em algum estado do Nordeste.

O Cenpes entrou também na corrida para produção de etanol com bagaço de cana. O Brasil está atrás dos Estados Unidos nessa disputa fundamental para o futuro do etanol como substituto de derivados de petróleo.

Como os projetos básicos (plataformas, por exemplo) da Petrobras são desenvolvidos dentro do Centro, pesquisadores e projetistas trabalham ombro a ombro, com auxílio de sofisticados sistemas em três dimensões, com software lá desenvolvido. Assim, as soluções para os problemas são encontradas mais rapidamente.

Já olhando mais para frente, o Cenpes estará envolvido na busca de opções que facilitem a produção de óleo e gás na Bacia de Santos. O mais provável é que no meio do caminho, em pleno mar, haja instalações intermediárias, seja como bases de apoio para as plataformas avançadas ou mesmo como industriais que possibilitem, por exemplo, a transformação do gás em diesel.

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