Os preços dos ativos, especialmente o valor das empresas, já se recuperaram 20% em média, no mundo, desde o mês de novembro, quando os mercados financeiros do planeta parecem ter chegado ao fundo do poço. Essa recuperação é explicada, em parte, pelo fato de o valor de muitos ativos ter se tornado irrisório. E também porque há um movimento de recomposição de estoques.
Produtores e exportadores começaram a estocar petróleo deliberadamente, depois que as cotações do óleo despencaram. Os chineses, que ficaram quase três meses fora do mercado, voltaram a comprar soja e minério de ferro, embora continuem batendo pé na questão dos preços.
E no caso das ações, surpreendentemente, há ordens de compra vindas do exterior. Do jeito que os estrangeiros torraram suas carteiras de títulos no Brasil, vendendo tudo a qualquer preço, era de se esperar que tão cedo não tivessem fôlego para comprar papéis na Bovespa. Dessa vez, os investidores pessoas físicas domiciliados no país foram mais ágeis e compraram na frente da turma lá de fora. Nem mesmo no período mais dramático da bolsa o volume de operações no chamado home broker (pelo qual as pessoas podem operar da própria casa, usando uma conexão eletrônica com corretoras especializadas nesse tipo de atendimento) diminuiu de forma expressiva.
É o fim da crise? Infelizmente não, pois a pisada no freio foi forte demais e os reflexos dessa parada no quarto trimestre de 2008 devem perdurar ainda por vários meses. No entanto, é um bom sinal que algumas operações financeiras tenham sido destravadas. Países emergentes, como México. Colômbia e Brasil, testaram o mercado com sucesso, semana passada, na venda de títulos soberanos (emissão governamental). O passo seguinte deve ser a retomada de emissões de papéis de empresas classificadas como AAA (Petrobras, Vale, etc.).
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As consequências econômicas da queda brusca dos preços do petróleo podem ser aferidas, mas é difícil avaliar qual será o impacto político dessa perda de receita.
Alguns países produtores do Oriente Médio podem aguentar o tranco por um certo tempo, pois possuem elevadas reservas financeiras. Mas o que pode acontecer na Venezuela, no Irã, na Rússia, no Cazaquistão, no Iraque, na Indonésia, na Bolívia, cujas economias se tornaram altamente dependentes do resultado da venda do petróleo ou do gás?
A atitude desafiadora em relação aos Estados Unidos pode perder o ímpeto. O presidente Barack Obama terá então, com a crise, uma oportunidade se "selar a paz" com esses adversários, sem fazer qualquer mobilização militar.
É curioso, mas a crise econômica e financeira deve contribuir para uma mudança considerável no tabuleiro político do mundo, por motivos que ninguém iria imaginar há pouco tempo. O petróleo está no meio de tudo isso.
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As opiniões sobre os rumos da economia (tanto a mundial como a brasileira) este ano continuam sendo muito dissonantes. Todos concordam que a crise é a mais séria desde os anos 30, mas os prognósticos sobre quanto tempo a recessão deve durar variam de seis a meses a cinco anos! Tem gente achando que o mundo já está caindo numa depressão econômica. Outros conseguem enxergar alguns sinais de recuperação em determinados segmentos.
A emissão de bônus do Tesouro Nacional no exterior, por exemplo, mostrou que ainda há vida no mercado financeiro internacional. Os papéis são de longo prazo (vencimento em 2023) e os rendimentos oferecidos estão entre os mais baixos no total de títulos do Brasil em circulação. No dia seguinte à emissão, esses novos bônus começaram a se valorizar, o que significou uma injeção de ânimo. Para quem acreditava que as portas iriam permanecer completamente fechadas, o bem-sucedido lançamento dos títulos do Tesouro funcionou como injeção de ânimo.
Os números da produção industrial e o desempenho recente das fábricas de automóveis, por sua vez, deixaram os analistas financeiros assustadíssimos. E para jogar lenha na fogueira, as autoridades do setor de energia decidiram desligar a grande maioria das termelétricas, pois as chuvas encheram os reservatórios das hidrelétricas e a previsão é que a demanda por eletricidade cresça pouco em 2009.
O enfraquecimento do consumo ficou espelhado no IPCA, o índice de preços que baliza as metas de inflação estabelecidas pelo governo. Em dezembro, a variação do índice ficou abaixo da média das expectativas do sistema financeiro.
Tudo isso somado mudou o quadro de apostas sobre o que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá na reunião de 21 de janeiro. Agora os prognósticos apontam para um corte de 0,5 a 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros.
Há sempre os que acham que tal corte seria um passo ousado, pois não é possível avaliar ainda o impacto do câmbio (desvalorização do real frente ao dólar) sobre os preços internos. Historicamente, o comportamento do câmbio costuma pressionar de forma expressiva a inflação brasileira. Mas no atual contexto, de demanda enfraquecida, existe mais risco de o país cair numa recessão, com deflação, do que de os preços subirem, em média, mais que 4,5% em 2009.