Enquanto o ministro da Fazenda Guido Mantega se justifica pelo crescimento pífio do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, comemora a expressiva contribuição do agronegócio ao indicador.
Na comparação com o com o segundo trimestre de 2012, o aumento do PIB no Brasil foi de apenas 0,6%. Contagiado pelo otimismo do governo, nem mesmo o mercado esperava um resultado tão ruim. Os analistas contavam com uma variação de ao menos 1%. O ministro Mantega, o mais desavisado, chegou a estimar um aumento de 1,3%. O susto, no entanto, poderia ser pior, não fosse o excelente desempenho do segmento agro, que no período avaliado cresceu 2,5% e evitou uma decepção ainda maior com o indicador.
As últimas parciais do PIB mostram de fato que o agronegócio tem sustentando não apenas os indicadores do setor como da economia brasileira. Não dá mais para ignorar a produção que vem do campo. Está implícito e explícito no contexto. E quem diz isso neste momento não são os produtores rurais, o Ministério da Agricultura ou a bancada ruralista no Congresso Nacional, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São números técnicos, acima de qualquer suspeita, que precisam ser acatados pelo o Ministério da Fazenda e pelo governo, independente da causa, ou reação, que tem sempre natureza política.
E não estamos tratando de sazonalidades. Se a avaliação de um trimestre para outro pode ser questionável, a considerar os ajustes que vêm sendo promovidos na política econômica, vamos então comparar o terceiro trimestre de 2012 com o mesmo período do ano passado. Nessa comparação, a situação do PIB nacional é um pouco melhor, com avanço 0,9%. E o aumento do agronegócio é ainda mais surpreendente, com variação de 3,6%, o que revela um crescimento consolidado.
Compreendidos os números, impossível então deixar de estabelecer algumas relações e comparações entre a tradicional economia industrial e a economia agrícola. Até porque, historicamente é a pasta da Agricultura quem precisa da Fazenda. É de onde saem os recursos para plantar, colher, armazenar e vender a produção. É quem define a taxa de juros, os limites de contratação e o prazo de pagamento. Agora, quase que por ironia do destino, é a Fazenda que aposta e que precisa da Agricultura para conter o recuo nas projeções, o enfraquecimento da economia brasileira e a fragilidade do Brasil no mercado internacional. Um posicionamento bom para o setor e bom para a Fazenda, que aumenta a sua compreensão sobre a relevância do agronegócio no desenvolvimento econômico e social do país.
Daqui para frente talvez fique mais fácil discutir com os técnicos do ministro Mantega as medidas de apoio e, muitas vezes, de socorro ao setor, que, além de submeter-se às regras do mercado financeiro, ainda está sujeito às condições climáticas, que aumentam o risco e a imprevisibilidade de retorno econômico da atividade. Por outro lado, se o agronegócio tem um desempenho nesse patamar, com um crescimento paralelo, descolado do PIB geral, é porque algumas condições já estão sendo proporcionadas, alguma coisa já está sendo feita. Um exemplo está na safra atual. Se o Brasil planta e tem potencial para colher uma produção recorde, acima de 180 milhões de toneladas, isso tem a ver com clima e mercado, mas também com o Plano Safra, que tem a ver com recursos, crédito, juros e, por consequência, com a Fazenda e com governo.
Quando sugere que os resultados do PIB põem em dúvida as políticas brasileiras destinadas a evitar que o país siga a trajetória de crise da América Latina, a crítica internacional não está equivocada. Os críticos, no entanto, ignoram a capacidade do Brasil, não de reverter o quadro, mas de estancar o recuo no PIB a partir do agronegócio. Bem como que este é um agente da economia que cresce e se fortalece com base em fundamentos, o que permite um avanço sustentável no mercado doméstico e internacional.
Também é certo que o agro não vai sustentar nenhuma economia que almeja o primeiro mundo, o status de nação desenvolvida. A agricultura pode até continuar sendo um porto seguro. Mas não por muito tempo. Para ser não apenas reconhecido, como respeitado no ambiente internacional, num futuro que precisa ser próximo o Brasil terá que exportar mais do que soja e milho, mas tecnologia e conhecimento. Valores que tem a ver com educação, que requerem mais do que simplesmente investimentos. É preciso foco, estratégia e determinação.
Enquanto isso, para o bem do PIB do Brasil, é melhor que a Fazenda fique cada vez mais próxima da Agricultura.