A economia brasileira patina. E não é de hoje, como bem sabe quem trabalha e todos os dias sente no bolso o peso da crise. São dois anos com o PIB (Produto Interno Bruto) no vermelho. E pode até ser difícil acreditar, mas, sim, a situação poderia estar ainda pior, não fosse pelo setor responsável por 22,7% de todas as riquezas geradas no país: o agronegócio. O número é referente ao índice Expedição Safra em 2016, confirmado pelas projeções da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Neste ano, se há esperança de que o Brasil volte a crescer, é nas lavouras que ela foi semeada.
É verdade que o campo não passou imune aos tempos de recessão, a exemplo das centenas de demissões vistas em frigoríficos. No entanto, enquanto o PIB brasileiro vem em queda, o agronegócio, a duras penas e mesmo com perdas climáticas, não parou de crescer e evitou um tombo maior. Se, no último ano, a economia do Brasil diminuiu em “apenas” 3,5%, muito se deve ao agro, que avançou em pelo menos 2%.
Para 2017, a avaliação oficial, do Ministério da Fazenda, é de um aumento de 1% no PIB – entre economistas, as previsões variam para baixo, até metade disso -, ao passo que, de acordo com a CNA, o Produto Interno do Bruto do agro deve, no mínimo, repetir o desempenho do último ano. É pelo menos o dobro do resultado geral, que, reforçamos, tem a participação do campo. Sem contar os efeitos positivos de uma agropecuária forte para outros segmentos, como o de veículos, por exemplo, com a venda de tratores.
Essa expectativa de retomada é alimentada, especialmente, pela safra cheia de grãos que está à vista. Diferentemente de anos anteriores, quando o clima foi decisivo para perdas de até 80% em algumas regiões do país, o tempo, por enquanto, tem colaborado: foi favorável na semeadura e, ao que tudo indica, apesar da interferência do La Niña, deve continuar assim para a colheita. A previsão para o ciclo 2016/17 está entre 213 e 215 milhões de toneladas, um recorde absoluto para as lavouras brasileiras. A isso, acrescentamos um câmbio que deve permanecer favorável na projeção do MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), com o dólar valendo, em média, R$ 3,40.
Ainda de acordo com o MDIC, a balança comercial deve registrar em 2017 um superávit semelhante ao de 2016, que foi de US$ 47,7 bilhões, o maior desde o início da série histórica, em 1989. É possível, porém, que a diferença entre exportações e importações fique acima até dos US$ 50 bilhões. Graças, é claro, ao papel do agronegócio. Para entender os números: dos dez produtos mais exportados pelo Brasil no último ano, sete vieram do campo. Só a soja rendeu US$ 19,3 bilhões, mais de 40% acima do minério de ferro, o segundo colocado no ranking.
Enquanto muitos setores públicos estão em recesso desde o fim do ano passado, o produtor rural não tem descanso. A vocação do Brasil é o agronegócio. E a vocação do agro é produzir e crescer. Já pensou se o campo não trabalhasse assim?
Polêmica
Ao longo da semana, uma polêmica tomou conta do agronegócio brasileiro: o novo samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense. Com o tema ‘Xingu, o clamor que vem da floresta’, a tradicional escola de samba do Rio de Janeiro culpa os produtores rurais pela ‘destruição de áreas indígenas’. Uma acusação que precisa ser rebatida. Além dos motivos econômicos, citados ao longo deste texto, é bom ressaltar que poucos países do mundo preservam tanto quanto o Brasil. Atualmente, no país, apenas 8% das terras são ocupadas pela agricultura, enquanto as reservas indígenas são 13% do território nacional.
Nos últimos anos, com tecnologia e estratégia, o país mostrou que é possível aumentar a produtividade sem a necessidade de desmatar. Ao mesmo tempo em que se protege mais o meio ambiente, os saltos de produtividade garantem o abastecimento e a oferta de energia e alimentos de forma racional. Isso é sustentabilidade.
Sindicatos, federações e entidades de classe já manifestaram repúdio contra o enredo da escola, que precisa se informar um pouco mais sobre de onde vêm os alimentos que garantem a diversão na Sapucaí.
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