Se o presidente Michel Temer completa um ano de governo com desempenho relativo em relação suas promessas, propostas e necessidades básicas e estruturais do país, com os ministros não foi diferente. Orientados pelo Palácio do Planalto, o resultado dos seus principais assessores no comando da nação não foi diferente. Com uma linha mais autoritária do que democrática, com pouco diálogo, quase nada de recursos e uma gestão impositiva, os ministérios pouco fizeram ou conseguiram fazer.

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Se é fato que a situação exigia atitudes mais enérgicas – a considerar a gravidade da crise política, econômica e institucional do país –, em várias situações a população ficou refém do sistema, à margem de debates e decisões importantes. De embates que são fundamentais ao futuro da nação e da soberania nacional. Que vão muito além de políticas deste ou daquele governo. São embates de Estado, que influenciam mudanças hoje e amanhã.

Das reformas previdenciária e trabalhista a questões fiscais e tributárias – como na permissão da compra de terras por estrangeiros –, temos hoje um governo que ouve pouco a sociedade. Se o governo temporário do vice que virou titular terminasse hoje, as lembranças não seriam do trabalho de Temer para o país e sim do que ele fez ou não fez para chegar ao poder.

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De qualquer forma, o presidente ainda tem um ano e meio para ser lembrado pela sua própria história. O desafio é grande, o tempo é curto e são poucos os operários. É difícil, mas não é impossível. Só é preciso querer fazer. E ter as pessoas certas para fazer acontecer. No agronegócio, por exemplo, foi um período de quase nenhum avanço que tenha vindo de estratégias governamentais. O Ministério da Agricultura (Mapa) passou mais tempo administrando crises e falando mais do mesmo do que trazendo inovações, conquistas e soluções concretas ao campo e ao mercado.

Boa parte dos 12 meses que teve à frente da pasta, o ministro da Agricultura Blairo Maggi passou viajando. Aliás, ele está viajando. Na sexta-feira (12), Blairo partiu para outra viagem internacional, em uma missão pelo Oriente Médio. Viajar, prospectar e negociar no mercado mundial está no escopo da pasta. Não tanto do ministro, como do ministério. Agora, governar, essa sim é uma prerrogativa de exclusividade do ministro.

Blairo Maggi consegue se ausentar do Brasil neste que talvez seja o momento mais delicado da sua gestão frente ao Mapa. Estamos no auge das definições sobre o novo Plano Agrícola e Pecuário 2017/18. O atraso na divulgação das novas regras, que no ano passado foram conhecidas na primeira semana de maio, causa expectativa e apreensão. O novo ano agrícola começa em 15 dias e o produtor ainda não conhece as novas taxas de juros, os critérios ao custeio e comercialização, como será o seguro rural e quais os recursos para investimentos. Aliás, apesar de o atual ministro ser produtor rural, este é um dos anos com a menor participação do setor produtivo nas discussões e definições do novo Plano Safra.

Carne Fraca

É preciso fazer justiça à atuação do ministro Blairo Maggi no episódio da Operação Carne Fraca. A resposta firme e rápida do Mapa evitou um estrago maior no mercado brasileiro de proteína animal. Os embargos estrangeiros à carne nacional foram debelados com a mesma rapidez com que foram levantados. Apesar de algumas gafes – coisa de assessor amador –, como levar o presidente Michel Temer, ministros e embaixadores de países que compram carne do Brasil para jantar em uma churrascaria que serve apenas carne importada, Blairo Maggi se superou e administrou como ninguém essa crise.

Terra a estrangeiros

O mesmo envolvimento e dedicação, no entanto, não se vê do Mapa e do ministro no debate que se estabelece em Brasília sobre a liberação da compra de terras por estrangeiros.

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Ao que tudo indica o governo federal está disposto a abrir a porteira, com pouco ou quase nenhum critério ou restrições ao capital internacional. Se produtivo, não especulativo, o investimento estrangeiro fortalece a economia, gera emprego, renda e divisas a partir do campo. Mas como fica nossa soberania? Terra no Brasil é vocação natural, exploração econômica e de subsistência. O que está em jogo não é a venda de uma simples fazenda. Mas talvez o maior ativo da agricultura mundial.

Além do que, discutir e abrir a discussão sobre a compra de terras por estrangeiros não significa ser contra a medida. Debater, esclarecer e estabelecer premissas deve ser condição a toda e qualquer mudança estrutural e que interessa não apenas ao governo, mas ao Estado e à sociedade. Então, ministro, assim como no caso do chefe do Executivo, há pouco tempo e muito a ser feito. E, se quiser ser lembrado como ministro, e não apenas como o Rei da Soja, melhor fazer alguma coisa. E rápido. A começar pelo novo Plano Safra e expondo a sua opinião sobre a aquisição de terras por estrangeiros no Brasil.