Com a saída da senadora Kátia Abreu, em pouco mais de 13 anos o comando do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) passou pelas mãos de oito pessoas diferentes. Entre políticos e técnicos, profissionais técnicos e profissionais políticos, uma média de 20 meses por ministro. O período coincide com a era do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder. Não que essa era tenha chegado ao fim. Afinal, pelo menos por enquanto, o afastamento da presidente Dilma Rousseff, e do PT, é temporário.
Cinco dos oito titulares ocuparam a pasta nos cinco anos e quatro meses da presidente Dilma. Os outros três, nos oito anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Destaque para os ministros Roberto Rodrigues e Reinhold Stephanes, que permaneceram à frente do Mapa por três anos e seis meses e o segundo, por três anos. De lá para cá, uma dança das cadeiras, um rotatividade tecnicamente inexplicável, porém politicamente conveniente, a julgar os interesses e as alianças partidárias.
Foi um período de indicações pouco técnicas e mais políticas. Em alguns casos, é preciso reconhecer, teve indicação política que surpreendeu, desenvolveu, desempenhou e realizou uma grande gestão. É o caso de Reinhold Stephanes. Ministro que acolheu e ouviu muito o setor. Soube realizar e se posicionar como um interlocutor legítimo, técnico e político, entre o governo e o setor produtivo.
Contudo, depois dele e do seu antecessor, o ministro Roberto Rodrigues, a pasta virou moeda de troca para servir quase que exclusivamente às acomodações políticas do Executivo e de suas alianças do que necessariamente ao agronegócio. Teve início então um festival de entra e sai de ministro. A partir de Wagner Rossi, que terminou a gestão Lula e começou o mandato de Dilma, foram seis ministros em cinco anos. Uma média de 10 meses por ministro, relação altamente prejudicial ao setor.
No governo Dilma, não no governo PT, o interesse político, com gestão descontinuada e sem prioridade, não deu a devida importância ao Ministério da Agricultura, única pasta direta e indiretamente relacionada com o que há de melhor na economia do país. Aliás, o único segmento que ainda resiste à crise generalizada da economia e permanece no azul. Não apenas o Produto Interno Bruto (PIB) do campo segue positivo, como é a produção e exportação agrícola e pecuária que tem sustentado o superávit da balança comercial.
A título de comparação e balizamento, em 23 anos os Estados Unidos tiveram apenas cinco ministros da agricultura, com média de quase cinco anos por titular. Tom Vilsack, atual secretário de Agricultura do USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, órgão similar ao Ministério da Agricultura no Brasil, está há oito anos no comando da pasta. E também não é por acaso que o agronegócio do país norte-americano é um dos mais fortes do mundo. Isso, porque o setor não representa nem 10% da economia nacional. Ao contrário do Brasil, onde o segmento responde por mais de 1/4 da economia.
Enquanto nós ainda temos plano safra, por lá eles têm política agrícola, que não tem a ver com o ano ou com o governo, mas tem a ver com a importância econômica, o abastecimento e a segurança alimentar. Nos Estados Unidos agricultura e pecuária são questões de segurança nacional. No Brasil, pelo menos para o governo, um jogo político partidário.
Esperança
O senador Blairo Maggi, produtor e ex-governador do Mato Grosso, escolhido pelo novo presidente para o Ministério da Agricultura, representa uma luz no fim do túnel. Pelo menos em tese, ele reúne as características desejáveis para o cargo. Tem base no campo, viveu e conhece a realidade e demandas da cadeia produtiva. E, por outro lado, tem experiência política, no comando do governo do Mato Grosso, o maior produtor de grãos do Brasil. E em Brasília, como senador. O que não significa que ele tenha trâmite e influência política.
Apesar de suas credenciais, ele só virou ministro com uma condição: mudar de partido. Uma exigência, é bom que se diga, política, de acomodação de um partido. Para se tornar ministro, Blairo Maggi teve que deixar o PR e se filiar às pressas ao PP. Mas tudo bem, se for por uma boa causa, onde os fins justificam os meios. Cabe agora, ao senador, mostrar que o arranjo político foi, realmente, por uma boa causa.
A indicação de Maggi, apesar da manobra partidária para acomodar partidos aliados, coloca fim a um loteamento partidário do Ministério da Agricultura pelo PMDB, o partido do antes vice e agora presidente da República Michel Temer. Com exceção do ministro Roberto Rodrigues, o primeiro da era PT, que sequer tinha partido, todos os outros, de Stephanes a Kátia Abreu, saíram das fileiras do PMDB.
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